:: O colégio de Deus ::

Estamos todos matriculados no colégio de Deus. A matrícula é gratuita e automática: se dá com a vida. Para ingressar nesse colégio, basta nascer. Os alunos não possuem responsáveis; cada um é responsável por seus próprios atos.

Os ensinamentos são os mais variados – e valiosos! O Supremo Professor, incansavelmente amoroso, não se furta a repeti-los pacientemente, mesmo para aqueles que insistem em não entender. Infelizmente, somos nós, os alunos, que costumamos nos cansar de aprender as lições do Mestre e, impacientemente, desistimos de nos deixar ensinar.

De fato, não é fácil aprender os ensinamentos do Mestre. Diferente do que ocorre nos colégios dos filhos de Adão, o maior entrave para nossa aprendizagem não está na desatenção, tampouco na distração...está no orgulho que cega nossos corações.

Nessa escola, as provas são contínuas e se misturam intrinsecamente com os momentos de aprendizagem. Não existe um espaço de tempo separado para aprendizagem e outro delimitado para se avaliar o que se aprendeu: ambos os momentos se mesclam e se sucedem indefinidamente no tempo, de modo que a prova, muitas vezes, pode vir antes do aprendizado ou – até mesmo – juntamente com ele. A prova não tem hora pré-definida para ser aplicada e pode, inclusive, passar por nós sem percebermos. E o verdadeiro ensinamento, por sua vez, - por causa do nosso orgulho – pode nunca vir a ser aprendido e apreendido, mesmo depois de já termos passado por diversas provas. A depender da cegueira obstinada do nosso próprio coração, o aprendizado nunca irá chegar.

Lembro-me de algumas provas pelas quais passei. Lembro-me que, por diversas vezes, fui reprovado nos primeiros testes. Minha cega obstinação era grande. Sempre dei o meu máximo – o melhor de mim – para me esforçar e conseguir tirar as notas mais altas... Para minha decepção, nunca passei. Não por não tirar notas boas ou ruins, mas justamente por acreditar que sempre merecia tirar uma nota maior do que a que eu realmente alcançara. Não por ser um bom ou mau aluno, mas por sempre me considerar um aluno exemplar.

Demorei a entender que, no colégio de Deus, a lógica é outra. Não são as boas notas, ou mesmo as ruins, que nos fazem ser aprovados, nem são o nosso mérito e esforço pessoal que contam. Pelo contrário. É a convicção de sempre estar muito aquém do que se pode estar que nos faz alunos bons e aprovados. É o senso de imperfeição – a certeza de que sempre dá pra melhorar, pois jamais alcançaremos o gabarito do Mestre – que nos leva à aprovação e nos faz caminhar rumo à Sua perfeição. É o senso de inadequação – a compreensão de que não importa o quanto façamos, jamais seremos amados por Deus por nosso suposto brilhantismo e genialidade – que nos torna adequados e aceitos.

Por mais contraditório que possa parecer, é a convicção de pecado que nos aproxima da santidade do Mestre. É enxergar a sujeira na roupa que nos motiva a querer lavá-la. É notar que as mãos estão sujas que nos faz querer limpá-las. É perceber a impureza do coração que nos possibilita ser impulsionados no desejo de torná-lo mais puro. É reconhecer a nossa real condição que nos atrai incondicionalmente ao infindável amor do Mestre. O objetivo das lições do Mestre é simplesmente esse: fazer-nos enxergar, sem que o orgulho embace o olhar, quem verdadeiramente somos e quem Ele verdadeiramente é.

No colégio de Deus, a principal lição que os alunos do Mestre precisam aprender é que é preciso fracassar. Só os que passam por uma experiência de profundo fracasso pessoal podem ser bem sucedidos. Só os que conseguem enxergar o próprio fracasso conseguem entrar pela porta estreita que leva à humildade. E só os que caminham em direção à humildade dão o primeiro passo para dar-se conta do próprio orgulho.

Eis a principal lição do Mestre: os que se julgam aprovados já foram reprovados, e os que se julgam reprovados, esses sim são aceitos! Quem se considera capaz está inapto; quem se reconhece inapto é por Deus capacitado. Quem se acha bom aluno e, por esforço próprio, julga merecer passar, esse não passa; apenas os desesperados consigo mesmos são agraciados com o consolo e a esperança vindos do alto.

No colégio de Deus, é até admitida a entrada de pessoas perfeitas, mas é terminantemente proibida sua aprovação. Quem se aprova se reprova perante os olhos do Mestre. Quem acha que merece tirar dez tira zero, e quem acha que merece tirar zero tira dez. Quem quer ser o primeiro é o último, e quem se coloca no final da fila é o primeiro. Quem se declara inocente é culpado, e quem se declara culpado é absolvido. Quem quer ganhar a sua própria vida, já perdeu, e quem perde a própria vida por amor ao Mestre, esse ganhou tudo que importa.

O Supremo Professor não se cansa de continuar ensinando, até que seus amados alunos aprendam e descubram que não se trata de tirar a nota máxima ou mínima. Na verdade, nunca se tratou. Deus nunca esteve preocupado com a sua performance. O que importa, no colégio de Deus, é aprender a andar junto com o Professor, seguir as pegadas do Mestre e estar tão abraçado a Ele e junto dele a ponto de conseguir ouvir as batidas do seu coração. Nesse momento, podemos sentir o seu amor como nunca antes. Paramos de enxergar a Deus como um juiz tirano. Mudamos nossa percepção, baixamos a guarda: de vítimas, passamos a pecadores carecedores da graça de Deus. Pois aprovados são aqueles que compreendem, como Lutero, que não são amados por serem belos, mas se tornam belos simplesmente por serem amados. Aprovados são aqueles que estão sempre aprendendo a deixar a graça de Deus fazer por eles o que jamais seriam capazes de fazer por si mesmos.

Por Fernando Khoury

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