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:: A síndrome do desejo de ser líder ::


Toda e qualquer liderança deveria nascer naturalmente, como uma semente que, aderindo e interagindo paulatinamente com os elementos do solo, cresce, amadurece e, durante esse árduo processo, acaba por ganhar toda a identidade, solidez e legitimidade que uma árvore frondosa deve ter. A verdadeira liderança nasce; não é imposta ou transplantada pela força. Pelo contrário, se conquista e é legitimada pela simbiose com o solo.

Infelizmente, nos últimos tempos, não tem sido assim. A síndrome do desejo de ser líder se impregnou em nosso meio e tem feito várias organizações tentarem produzir sementes em massa, como se árvores constituídas já fossem. Assim, muitas vezes, pseudoárvores têm sido transplantadas artificialmente em solos até então desconhecidos e já habitados por outras sementes naturalmente lançadas e em fase de crescimento. E, como tudo que é artificial, essas pseudoárvores normalmente não se adaptam nem se amoldam naturalmente ao solo - e vice-versa. Acabam se impondo pela força e, por mais bem intencionadas que estejam, é raro conseguirem produzir frutos com vida, alegria e intimidade necessárias. 

Aliás, a imagem da semente carrega consigo a ideia perfeita do líder genuíno: semente que sonha ser árvore tem que se lançar à terra e com ela se misturar; tem que se quebrar, se rachar, se doar no calor e na luz do sol; tem que se permitir regar e nutrir com a água da chuva e com os nutrientes do solo. E, quando menos se espera, a semente lançada já não é mais uma simples semente... é uma árvore em processo de formação.

Como ensinou Jesus, "se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto"(Jo 12:24).

A semente, se quiser ter comunhão com o solo e produzir muito fruto, precisa morrer. Líder que é líder precisa estar disposto a se entregar. Lançar-se à terra, entregar-se e doar-se, a ponto de nela e por ela morrer. Liderança genuína exige renúncia. Líder que não morre pode até permanecer vivo, mas vive só. Só quem está disposto a morrer no solo e por amor ao solo é capaz de gerar mais vida e mais vidas a partir da sua própria.

Semente que pretende ser árvore aprende que sua única segurança está em não ter segurança em coisa alguma. Sabe que, quando lançada, não tem garantia ou controle sobre o lugar ou a maneira como cairá por terra. Sabe que deve abrir mão do que sempre foi para vir a ser o que jamais imaginou que seria. Líder que é líder coloca sua segurança nas mãos do Agricultor e, para onde Ele lançar, vai de olhos fechados, mas com fé e coração aberto.

Semente com cara de árvore aprende a esperar e a depender do Agricultor, pois só sabe que, enquanto jaz no solo, nada sabe a respeito do futuro que a espera ou do tipo de fruto que virá a produzir. Líder que é líder não tem pressa, não justifica os meios pelos fins, nem passa por cima das pessoas, nem corre contra o tempo. Antes, sabe esperar e colocar sua confiança no Agricultor que é Senhor do tempo, e não em homens – geralmente, outros líderes – que tentam barganhar valores e princípios bíblicos da semente com sedutoras e ilusórias promessas de fixar e estabilizar sua raiz em determinado cargo ou posição.

Mesmo assim, tem muito líder transplantado que continua não abrindo mão da posição de liderança apenas por amor ao salário, apego ao poder e comodismo preguiçoso... Esse não é o líder verdadeiro.

Líder que é líder se entranha no solo, se mistura com as pessoas e nutre relacionamentos com elas. Nessa interação, não só o solo ouve a semente, mas a semente também ouve o solo, e, sem arrogância, com ele aprende e dele se alimenta. O verdadeiro líder, mesmo quando árvore, continua interagindo e se entranhando na terra, pois não esquece sua origem e continua enxergando a semente que é e sempre foi. 

Líder que é líder sabe que o poder afasta e, para não se afastar das pessoas, decide se afastar do poder e se aproximar do serviço. Líder que é líder não tem liderados; possui amigos. Líder que é líder não é chefe; é companheiro de caminhada. Líder que é líder ouve mais do que fala, aprende tanto quanto ensina.

Líder que é líder não tem sempre razão, nem se encastela em seu ego: sabe perder, abrir mão, reconhecer seus erros e conservar a capacidade de autocrítica.  Líder que é líder corta da própria carne, e não apenas da de sua equipe.

Líder que é líder, antes de liderar quem quer que seja, precisa aprender a liderar o seu próprio coração. Líder que é líder, se de fato ama, cuida dos frutos podres e não os deixa contaminar os demais, nem serem digeridos por pessoas sedentas na alma. Líder que é líder jamais escolhe o lobo, pois sabe que privilegiar o lobo implica sacrificar as ovelhas. 

Líder que é líder sabe identificar em outras sementes árvores em potencial e lhes propiciar crescimento, sem inveja. Líder que é líder permite que as árvores ao seu lado também produzam frutos, e não se sente ameaçado – mas realizado – quando outros ramos, que não os seus, começam a se destacar. Líder que é líder não medo de ser ofuscado pelo brilho dos outros.

Líder que é líder nasce no solo, do solo e para o solo. E é o próprio solo - as pessoas - que faz com que a semente lançada e disposta a se doar cresça, amadureça e se legitime como árvore. Para decepção dos obsessivos por liderança, não são os líderes que escolhem seus liderados; são os liderados que fazem e escolhem seus líderes. 

É bem verdade que a imagem que os próprios líderes costumam passar é a de que possuem o controle de tudo em suas mãos, inclusive das pessoas que o seguem. Mal sabem que são os liderados que cedem espaço em seu próprio coração para que a semente do líder possa germinar, crescer e ocupar o seu lugar. Quando isso acontece, a semente envaidecida cai na tentação de achar que sempre foi árvore e de que pode continuar a sê-la, mesmo sem receber o alimento do solo e o cuidado do Agricultor. É nesse momento que a árvore, até então forte e frondosa, cai dura no árido e pedregoso chão que ela mesma cultivou. O orgulho da árvore em achar que não precisa mais do solo, das sementes e do Cuidador precede sua própria queda. 

Por isso, nos é exigido um duplo cuidado. Aos liderados: cuidado com o líder que você segue; ele pode estar mais perdido que você. Aos que pretendem ser líderes e sementes em gestação: cuidado com o tipo de líder que você quer ser, é e pode se tornar. Livre-se da síndrome do desejo de ser líder. Permita-se impregnar do desejo de ser o menor, o último, o servo, o amigo e o companheiro de caminhada daqueles que veem verdade em sua vida de fé. Se com Jesus foi assim, com você não pode ser diferente.



Por Fernando Khoury
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:: O umbigo de Adão ::


Existe uma voz interior, inaudivelmente sutil e silenciosa, que grita gentilmente dentro de nós. Não há quem não consiga ouvir. Não há quem não sinta. Porém, há quem consiga ignorá-la. Há aqueles que passam a vida tentando sufocá-la, na vã esperança de que esse sussurro gracioso venha a morrer por falta de ar e, um dia, simplesmente pare de falar, de advertir, de orientar. Mas não para. Nunca para.

Apresento-lhes a consciência: essa voz gentil, mas eloquente, que vem de dentro e lança o ser humano para fora de si, lhe concedendo a benção da auto-observação; essa voz suave, porém confrontadora, que oferta a todos aqueles que foram feitos à imagem e semelhança de Deus a possibilidade de contemplar seu íntimo e, como num espelho, se tornarem espectadores de si mesmos.

“A consciência é o umbigo da alma” – já dizia o psicanalista austríaco Viktor Frankl. Em outras palavras, se o umbigo físico é um sinal que evidencia que um ser humano teve sua origem num outro ser superior e anterior que o amou, sustentou, alimentou e gerou, o umbigo abstrato – ou seja, a consciência – nos mostra que essa voz foi gravada em nossos corações por outro ser pessoal, anterior e superior a nós, que, com muito mais razão e profundidade, nos amou, sustentou, alimentou e gerou. 

A consciência é esse presente de Deus que mostra nossa origem, mas faz bem mais do que isso: empurra e impulsiona aqueles que não sufocam a divina voz de volta para Aquele que os criou. A consciência é essa voz que nos mostra de onde viemos e nos ensina para onde devemos voltar: nos mostra o caminho de volta pra casa.

Deus fez questão de não esconder essa valiosa informação de suas criaturas. A Bíblia, em sentido completamente antagônico à síndrome relativista pós-moderna, ensina que existe algo no interior do ser humano que ecoa o "sim" e o "não" de Deus (Romanos 2.14-16) – a consciência! O certo e o errado, segundo os padrões de um Deus amoroso, santo e justo, estão gravados no coração do homem e fazem parte do que ele é, não importa a cultura, o tempo ou o lugar que venha a ocupar no cosmos. A consciência é o meio pelo qual Deus se manifesta graciosa e continuamente a todo ser humano, seja ele religioso ou não, seja ele cristão ou não. Todo ser humano possui, em seu íntimo, essa voz, essa consciência de que Deus existe. Nem todos admitem isso, é verdade. A maioria opta por sufocar a divina voz e acaba não enxergando o próprio umbigo da alma, que aponta para a realidade de um Deus Criador.

O simples fato de cada uma das criaturas possuir consciência já aponta para a graça do nosso Consciente Criador, pois mostra um Deus que, deliberadamente, optou por ceder espaço existencial para que outras consciências pudessem, livremente, coexistir e interagir em unidade com a Dele. Infelizmente, talvez por não gostarmos tanto assim de unidade e, menos ainda, de sermos contrariados, utilizamos das nossas consciências para nos rebelar contra a Consciência de Amor que nos gerou. E, assim, utilizamos nossas consciências, fruto do espaço existencial proporcionado pela graça desse Deus amorosamente consciente, para nos voltarmos contra a consciência amorosa do Deus da graça. Por vontade própria, cortamos o cordão umbilical que nos unia a Deus. Sentimos dor. Choramos. Por natural, não há quem rompa com Deus que, no final das contas, não rompa consigo mesmo. Cessar com a luz é flertar com as trevas. Romper com a vida é abraçar a morte. Nós abraçamos.

Mas Deus não desistiu... Deus nunca desiste de nós. Seu amor pelo ser humano é tão inexplicavelmente persistente que "não é de se estranhar que um ser capaz de ceder de seu próprio espaço entre na história, espaço que nos foi concedido, para nos resgatar" (Ariovaldo Ramos). E foi isso que Ele fez. Desceu, despiu-se de sua glória, se fez como um de nós, viveu conscientemente a vida que não conseguimos viver. Na cruz se entregou, sofreu voluntariamente, morreu a nossa morte. O Filho ressuscitou, venceu a morte, nos ofereceu a única vida capaz de libertar nossas consciências da escravidão e rebeldia para, enfim, levá-las de volta para o lugar de onde nunca deveria ter saído: o amor consciente do Pai.

Um Deus Pai, que pelo cordão umbilical da consciência humana, mostra sua face materna e nossa origem de amor. Um Deus Filho, que pelo cordão umbilical da cruz, nos resgatou e uniu novamente ao útero do Deus Pai. Um Deus Espírito, que pelo cordão umbilical do conselho, liberta nossas consciências e nos convence da justiça, do pecado e do juízo (João 16.8).

Não negligencie sua consciência; ela é o umbigo que conta a história da sua vida: de onde você veio, porque está aqui e para onde você pode ir. E para aqueles que ainda se perguntam se Adão, o primeiro ser humano criado por Deus, tinha umbigo, a resposta nunca esteve tão clara: a consciência era o umbigo de Adão!

Por Fernando Khoury



:: A excelência dos medíocres e a mediocridade dos excelentes ::

"Há gente que, em vez de destruir, constrói; em lugar de invejar, presenteia; em vez de envenenar, embeleza; em lugar de dilacerar, reúne e agrega." Lya Luft

Algumas pessoas têm o dom de destruir aquilo que, no íntimo, querem valorizar. Outras se esforçam para supervalorizar aquilo que, no íntimo, sabem que deve ser destruído. Não é raro essas duas características coexistirem harmonicamente na mesma pessoa. Até mesmo porque destruir o que deve ser valorizado é uma inteligente e maquiavélica forma de supervalorizar o que deveria ser destruído. Contudo, hoje vou me propor a falar apenas do primeiro tipo.

Pessoas assim são como aquela mãe que come silenciosamente o delicioso bolo surpresa que a filha preparou, mas só faz criticar a bagunça que foi deixada na cozinha. E, por causa da bagunça, destrói a bela iniciativa da filha – que, no fundo, obteve admiração velada da mãe, mas só recebeu de concreto a sua raiva. Bagunça esta, vale a pena dizer, que, na maioria das vezes, só existe mesmo na cabeça da própria mãe. Afinal, não é nada fácil se deparar com uma pessoa que até anteontem estava debaixo das suas asas, totalmente dependente do seu auxílio e orientação, e, agora, começa a alçar voos próprios. Esses voos solos têm o poder de  bagunçar as gaiolas por dentro: faz as “pessoas-gaiolas” se sentirem ameaçadas, acuadas, destituídas de função e utilidade. Faz essas pessoas sentirem que perderam o controle sobre a outra.

Esse dom de destruir o que deve ser valorizado é a marca de uma mente ameaçada, de um coração inseguro de perder o controle sobre algo que de fato já está voando livremente, sem gaiolas, de forma leve e solta pelos ares.

Esses, os que realizam voos solos, são criadores por natureza. Carregam a marca da excelência. E, para criar, muitas vezes precisam, antes, destruir: desfazer barreiras, desconstruir preconceitos, demolir muros de separação, pôr abaixo a inércia, dar a cara à tapa. Traçar rumos antes jamais traçados e pisar em terras antes jamais pisadas. Arregaçar as mãos. Fazer o novo ou, no mínimo, queimar alguns neurônios para colocar a criatividade a serviço da renovação das antigas e boas ideias que, de tempos em tempos, precisam ser renovadas para serem compreendidas. São poucas as pessoas que se dispõem a esse árduo e desafiador trabalho, por sempre envolver uma elevada dose de sacrifício e renúncia pessoais.

Agora, para construir em cima de edificação alheia, sempre aparece alguém sorrindo de orelha a orelha com os dentes brilhando, disposto a destruir tudo que já foi construído, selado e sedimentado após o árduo trabalho dos criadores. Esses, as “pessoas-gaiolas” que se sentem ameaçadas, são os medíocres por natureza – como aquela mãe, bagunçada internamente pelo delicioso bolo preparado pela filha. Não é à toa que, em regra, a inveja é o alto preço que a excelência cobra da mediocridade.

O médico e professor de psiquiatria Luís de Rivera define mediocridade como a incapacidade para apreciar e valorizar a excelência. Segundo ele, na sociedade em que vivemos, existe uma tensão latente entre excelência e mediocridade: enquanto aquela contribui de forma definitiva para o progresso e para mudança, esta é necessária para se manter inquebrável o status quo e a estabilidade social.

Das três espécies de mediocridade que o professor elenca, duas são simplesmente incapazes de reconhecer o progresso, e uma – a pior e mais maligna delas – busca destruir o progresso criativo, não importando os meios utilizados para se chegar a esse fim. É a denominada mediocridade inoperante ativa, presente naquelas pessoas que não são criativas nem produtivas, mas destrutivas, simplesmente por possuírem um enorme desejo de serem notadas e mantidas em seu status quo.

Afora todos esses dilemas inerentes à sociedade doente na qual vivemos, gosto particularmente da forma como Deus lida com “excelentes criadores” e com “medíocres destruidores”. Deus ama tanto os que querem criar quanto os que querem destruir. Parafraseando Lutero, Jesus não amou criadores e destruidores porque são dignos de serem amados; mas, porque decidiu amá-los, criou neles o que vale a pena ser amado. E mais do que amar: Deus usa os dois para sua obra aqui na Terra – apesar dos dois. Até porque os “excelentes criadores”, após terem sua criação perfeita e acabada, podem perfeitamente, depois de um tempo, se transformar em “medíocres destruidores” apenas para manter inquebráveis o status quo conquistado e a estabilidade pessoal adquirida. Jesus não. Jesus foi diferente.


O Excelente Criador nunca destrói aquilo que quer valorizar. Pelo contrário, Cristo só destrói aquilo que quer nos destruir e nos separar do seu amor. Jesus anulou a consequência do orgulho que nos fez cair. Quer sejamos criadores, destruidores, ou os dois, através da excelência da cruz Jesus destruiu o poder da morte e nos trouxe de volta pra si. Não existem mais terrenos próprios ou alheios: tudo é de Cristo, por Cristo e pra Cristo (Rm 11.36). Quem constrói o faz em terreno de Cristo. Quem destrói o faz em terreno de Cristo. Chega de vaidade! Chega de excelência na mediocridade! Chega de mediocridade na excelência! Valorize o que deve ser valorizado, para honra e glória do único Criador de todas as coisas. 


Por Fernando Khoury
:: Sopro ::

“Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa.”
Tiago 4.14

“Senhor, que é o homem para que te importes com ele, ou o filho do homem para que por ele te interesses? O homem é como um sopro; seus dias são como uma sombra passageira.”
Salmos 144.3-4

Frágil. Todo ser humano deveria vir com um adesivo colado em seu corpo contendo aquele tão antigo e conhecido alerta descrito nas caixas de papelão: "CUIDADO! FRÁGIL. MANTER LONGE DO FRIO E CALOR. SUJEITO A QUEBRAS E RANHADURAS".

Somos sujeitos às intempéries da vida. Suscetíveis à solidão, à depressão e ao sofrimento. Fracos e sedentos diante do intenso e desconfortável calor do deserto. Sensíveis a palavras, ofensas e atritos. Vulneráveis a tudo e a todos. Tudo na criação pode nos atingir. Todas as criaturas possuem o poder de nos diminuir.  

FRÁGIL. Essa é a nossa realidade. Não importa o cargo profissional que você ocupe, a posição social que você ostente ou quão inatingível você se sinta por qualquer outro tipo de orgulho alimentado em seu interior: você continua sendo um vapor que aparece por um breve instante e logo se desvanece (Tiago 4.14).

Tipos de orgulho são tipos abertos, sutis, altamente flexíveis e facilmente moldáveis a qualquer situação. Seja você rico ou pobre, sinta-se você bonito ou feio, julgue-se você religioso ou não, o orgulho é uma espécie maquiavélica de célula-tronco que nunca para de agir e se reproduzir em nós: a todo instante, é capaz de se transformar e de se replicar em qualquer “tecido” do nosso ser, ocultando dos nossos sentidos o clamor da intrínseca e gritante fragilidade que habita em nós.

É verdade. O orgulho possui esse estranho poder de esconder nossa frágil natureza de nós mesmos; de obscurecer nossa real dependência de um único Alguém que possa suprir plenamente as carências que sentimos. O orgulho mente descaradamente para nós. Como um anjo de luz, nos faz acreditar que somos tudo e, porque acreditamos que somos tudo, acreditamos que podemos tudo... quando, na verdade, não passamos de uma sombra, de um sopro (Salmos 144.3-4).

Reconhecer a impossibilidade de se bastar a si mesmo já é um grande passo, pois romper com o orgulho é sempre passo difícil de ser dado. É, no mínimo, ser sincero consigo mesmo. É assumir que um sopro, por mais ensimesmado que seja, jamais pode se ver como furacão, pois sopros não possuem existência própria. São sempre provenientes de um outro Alguém. Reconhecer-se como sopro, portanto, é começar a encontrar a própria origem; é descobrir de onde partimos e a quem pertencemos.

O sopro que eu sou não foi proveniente de mim mesmo ou do acaso. Deus me formou do pó da terra, e soprou em minhas narinas o sopro da vida. Foi através do fôlego de Deus que eu e você nos tornamos almas viventes (Gênesis 2.7). Só temos vida porque Deus, em amor, decidiu soprar o Seu próprio fôlego de vida em nós. Somos sopro de Deus, dEle viemos e a Ele pertencemos.

Porém, o sopro assoprado para ser eterno se ensimesmou, abandonou sua origem dependente e quis se tornar furacão. Cegado pelo orgulho, se esqueceu de que furacões não existem sem ventos, e ventos não existem sem sopro, e sopro não existe sem um pulmão que respire vida e comunique o seu próprio fôlego ao que não tem fôlego de per se. O sopro gritou “independência ou morte”, perdeu o fôlego e morreu.

O sopro que era eterno, pleno e saudável – pois ligado à videira – tornou-se fugaz, vazio e doente. Tudo porque a real percepção de si mesmo foi obscurecida pelo orgulho, e pelo orgulho nasceu o pecado, e do pecado veio a separação entre sopro e pulmão, e da desunião entre sopro e pulmão, a morte.

Mas Deus voltou a soprar. O fôlego de vida fez-se sopro para a morte derrotar. Soprou-se a si mesmo, suportou a morte em meu lugar.

E, agora, felizes, os sopros podem, livres, ao pulmão retornar. Pois Jesus fez-se sopro incorruptível, para que os sopros corruptíveis regressassem ao verdadeiro lar. O pulmão é Deus, e sem ele não se pode respirar.

Pare de utilizar aparelhos artificiais de respiração. Respire Jesus, pois só o sopro dEle pode te dar a salvação.



Por Fernando Khoury
:: Talvez seja hora de mudar ::


Às vezes me sinto batendo seguidamente a cabeça na parede...nadando contra a correnteza. Não por teimosia, tampouco por falta de capacidade. Talvez por falta de clareza mesclada com gotas de medo. É como se existisse um hiato inseparável e intransponível, além das minhas forças, que impede o meu esforço de alcançar o objetivo ao qual se propõe. Talvez eu ainda me sinta assim por estar descobrindo, aos poucos, o que Deus verdadeiramente quer de mim.

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo pra todo propósito debaixo do céu (Eclesiastes 3). Talvez esse seja o tempo de descobrir. Se a parede não muda de lugar, talvez seja hora de eu mudar de posição. Se a correnteza não muda de direção, talvez seja hora de eu mudar o sentido dos meus passos. Talvez essa seja a hora de começar a mudar os planos; de parar de remar contra a maré; de seguir a direção do vento, olhar pra cima e enxergar no céu o lindo desenho que Deus está querendo formar com as nuvens - pois uma certeza tenho: Ele está no controle da minha vida e a minha maior vontade é fazer a vontade daquele que me criou!

Por Fernando Khoury
:: O choro por Chorão ::


Muitos choram a morte de Chorão. Eu também choro. Não pelo Chorão em si, mas pelo choro de uma alma que nunca encontrou o verdadeiro Consolo. 

Choro pelas lágrimas caídas ao chão de alguém que tinha tudo, e ao mesmo tempo nada. Choro pela dor de alguém que escolheu encher-se do vazio do mundo; por alguém que buscou o Amor onde ele não pode ser achado. 

Eu choro, enfim, não apenas pelo Chorão que se foi, mas pelos Chorões que ainda existem e um dia existirão, e que, carentes, daqui irão, sem nunca ter conhecido o Amor do Pai refletido em Jesus.

Quanto ao real Chorão e aos recentes relatos que afirmam ter sido o mesmo apresentado a Cristo, anseio muito que seja verdade. Espero, sinceramente, que ele tenha sido o ladrão da cruz que, em seu último suspiro, sentiu o amor e graça de Jesus e, nEle crendo, recebeu a salvação. Porque eu creio na graça avassaladora do Amor que salva até o último instante.

Por Fernando Khoury
:: O alguém distante ::


"Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia." (Mateus 5.7)

Quem nunca notou o afastamento de alguém? De uma pessoa que antes era próxima, se fazia presente, ativa, participante e, por isso mesmo, era sempre lembrada? Se não todos, a maioria sempre nota. Mas essa mesma maioria que sempre nota facilmente se acostuma com a ausência em si. Não deveria.

O curioso é ouvir as explicações que brotam – talvez por terem sido propositalmente enxertadas por um maquiavélico agricultor – no inconsciente coletivo: “fulano está mais distante por causa do trabalho”, “é porque ele casou”, “ah, ele está com muitos afazeres”, “está estudando pra concurso...”.

Não que essas explicações não tenham conexão com a realidade dos fatos. Não que essas justificativas sejam falaciosas. De fato, muitas vezes, a pessoa que se afastou está realmente trabalhando muito, ou dando especial atenção ao novo cônjuge, ou cheio de problemas para resolver, ou, então, quem sabe, estudando horrores para ser aprovado num concurso.

Contudo, aceitar tais fatos como reais justificativas para o afastamento de alguém beira ao comodismo inocente e irresponsável de aceitar que nos digam que “fulano se afastou porque está vivendo”. E ninguém se afasta por estar vivendo! As pessoas se afastam, isto sim, por tudo e todos que agridem e machucam sua vida:  decepções, frustrações, mentiras, dor... lágrimas muitas vezes silenciosas, ocultas, internas, totalmente imperceptíveis para aqueles que se contentam com explicações do tipo “fulano se afastou porque está vivendo”.

Lembre-se: ninguém se afasta por estar vivendo. Pessoas se afastam por estarem sofrendo. Da próxima vez que alguém, antes próximo, se tornar ausente, você tem o dever de perguntar a si mesmo: “O que está por detrás dessa ausência?” “O que esse alguém está sofrendo?” E, depois, faça-se presente para aquele que se ausentou. Faça-se próximo daquele que se afastou. Seja ouvidos para aquele que não tem o que falar. Seja abraços para aquele que, encolhido em sua dor, não vê motivos para abraçar. Chore junto com ele. Ajude a enxugar suas lágrimas com a toalha da oração.

Ter misericórdia é ter compaixão pela necessidade do próximo. É se afeiçoar à sua dor, tristeza e sofrimento. Não se torne apático e insensível às lágrimas ocultas do afastamento de alguém – até porque amanhã o “alguém distante” pode ser você. Isso sim é viver genuinamente o amor de Cristo.


Por Fernando Khoury
:: Reflexões de um dia comum ::









“Disse-lhe Jesus: eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. (João 14.6)

“Disse-lhe Jesus: felizes são aqueles que não me viram, mas creram”. (João 20:29)

“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”. (I Coríntios 2.9)


Se você já fez planos e sonhos para um relacionamento, acreditando que ele seria pra sempre...

Se você já fez juras de amor para uma pessoa que acreditava ser o eterno amor da sua vida...

Se você já achou que não conseguiria viver sem o amor de uma pessoa, e hoje você nem a vê mais...


Você aprendeu que o amor é uma planta que pode crescer ou morrer, dependendo do quanto ela seja regada.
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Se você sentiu um dia em seu coração o desejo de ser criança pra sempre...

Se você achou que nunca envelheceria ou que o seu melhor amigo seria sempre o mesmo...

Se você um dia já desejou que os seus pais não morressem nunca...


Você entendeu que o tempo passa e quase tudo nesse mundo é passível de mudança.
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Se você vive a vida como se ela não fosse acabar nunca...

Se você ainda não se deu conta de que as pessoas que você realmente ama estão indo embora desta Terra...

Se você tem como o maior sonho da sua vida conseguir um bom emprego ou ganhar muito dinheiro...


Você ainda não compreendeu o mais importante: a beleza da vida está no caminho, e não na linha de chegada. 

Você ainda não percebeu que o ser-humano é tão frágil quanto uma pena levada pelo vento, a ponto de não ter controle nem mesmo sobre a sua própria vida.

Por isso, olhe ao seu redor, perceba os detalhes. Valorize a beleza da paisagem. Ouça o canto dos pássaros. Admire o pôr do sol. Passe tempo com as pessoas que você ama. Chore. Sorria. Dance. Recolha-se. Converse com seus pais enquanto ainda há tempo. Não deixe para fazer as pazes no dia seguinte, pois pode ser que ele não chegue. Aproveite cada segundo como se fosse o último, porque ele pode realmente ser...

Porém, não se deixe iludir: existem muito mais coisas além do que o seu olho pode ver. A verdadeira vida só começa onde o alcance da sua visão acaba. Porque felizes são aqueles que, mesmo sem ver, acreditam...acreditam no amor, acreditam na mudança, acreditam no caminho.



Por Fernando Khoury
:: Pensei no meu filho e criei forças ::



“E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra até à hora nona, escurecendo-se o sol.”
Lucas 23.44



Hoje foi um dia incomum. Pelo menos para quem mora no Rio de Janeiro, hoje foi mesmo um dia atípico. Durante todo o dia, não conseguir ver sequer um raio de sol atravessando as nuvens, nenhum passarinho cantando, nenhum sinal de vida brotando da natureza, nenhuma cor alegre refletindo no horizonte… É verdade, hoje foi um dia um pouco sombrio; um dia em que o sol não apareceu. Talvez, por isso, um dia propício à reflexão.

Foi num clima assim — um pouco frio e bastante cinzento — que, de tarde, ouvindo um forte e constante barulho de chuva do lado de fora da janela, resolvi acessar a internet para ler algumas notícias. Abri o site, mas não consegui ler mais do que uma notícia, pois meus olhos, como um objeto de metal atraído irresistivelmente pela força magnética de um imã, pararam fixamente na primeira manchete do jornal on-line, que dizia:
“PENSEI NO MEU FILHO E CRIEI FORÇAS
Mãe arrastada pela enxurrada em SP conta como escapou da morte”.
A reportagem tratava da gigantesca enchente que assolou a cidade de São José do Rio Preto, em São Paulo, no ano de 2010, transformando uma simples rua num verdadeiro rio caudaloso, que arrastou consigo várias pessoas que por lá transitavam, quase levando-as à morte. Uma dessas pessoas era Gisele, mãe viúva de uma criança de 6 anos.

Gisele foi arrastada violentamente pela enxurrada, e chegou a ficar desaparecida por mais de dois minutos, pois estava presa embaixo de um carro atolado na imensidão de água. Após muito esforço, e quase tendo sucumbido à morte, Gisele conseguiu erguer a mão, ainda com o rosto sufocado e submerso, e, assim, chamar a atenção de alguns voluntários para salvá-la.

Depois de resgatada, ao ser questionada de onde teria vindo tamanha força interna para resistir, a mãe em prantos desabafou:

Pensei no meu filho, porque ele perdeu o pai faz dois anos, e pensei que não podia deixá-lo só, tinha que lutar pelo menos por ele. Foi quando eu criei forças e consegui erguer a mão para alguém me ver”.

E foi justamente essa declaração que me fez refletir.

Fico pensando, comigo mesmo, se não foi exatamente esse um dos sentimentos — ou talvez o principal sentimento — que encorajou e motivou Jesus a vencer as tentações, a humilhação, o sofrimento, o medo e a dor da terrível morte de cruz que se aproximava.

Consigo imaginar Jesus — no ápice de seu sacrifício cósmico, quando, aflito, clamou em tom contundente: “Pai, afasta de mim esse cálice, mas seja feita a sua vontade” — sendo movido internamente pelo mesmo sentimento que moveu aquela mãe desesperada. Consigo visualizar o coração de Jesus pulsando com o amor de Deus Pai pelo meu nome, batendo pelo seu nome, e dizendo:
PENSEI NOS MEUS FILHOS E CRIEI FORÇAS… Pensei nos meus filhos, porque eles se perderam do Pai faz muito tempo, e pensei que não podia deixá-los sozinhos. Eu tinha que lutar por cada um eles. Foi quando eu criei forças e consegui erguer a minha voz, para que o Pai fizesse a sua vontade… Pensei no amor que sinto pelos filhos que o Pai me confiou, para que eu criasse forças de morrer no lugar de cada um deles, para sofrer em meu próprio corpo o castigo que lhes traz a paz eterna e, assim, restabelecer o contato e a intimidade que, um dia, eles tiveram com o Pai ”.
Assim como aquela mãe viúva, o que motivou Jesus a prosseguir em seu objetivo foi a vida do filho e o amor incondicional por ele. Contudo, há uma grande diferença entre o resultado que esse sentimento de amor produziu em relação à mãe e em relação a Jesus.

De fato, para a mãe, o amor ao filho gerou forças para sobreviver e escapar da morte. Para Jesus, o amor ao filho gerou forças para morrer e vencer a morte. A mãe “escolheu viver” porque o filho havia perdido o pai; porque era humanamente impossível trazer um pai morto de volta ao seu filho. Jesus escolheu morrer porque os filhos haviam se perdido de seu Pai; porque era divinamente possível e desejável trazer os filhos mortos em seus delitos e pecados de volta à vida de intimidade com seu Pai.

Sim, eu e você estávamos espiritualmente mortos, porque, um dia, abandonamos o Pai. E, por causa do nosso pecado, perdemos a plena comunhão que tínhamos com Deus. Equivocadamente, muitas pessoas acreditam não apresentar pecado ou, muitas vezes, nem sabem direito o que significa pecar…mas pecado é apenas isso: um estado interno de rebeldia e de separação do cuidado e do amor de Deus, que todo ser humano voluntariamente apresenta em seu coração. Pecado não é simplesmente um ato, mas uma manifestação externa de uma prévia disposição interna.

Com um amor muito mais profundo e um grito muito mais sofrido do que o daquela mãe, Jesus escolheu nos resgatar ao amor de Deus. Como? Através de sua morte e ressurreição. Jesus veio restaurar justamente esse elo perdido com o Pai. Ele pagou o preço do nosso pecado — a morte — em nosso lugar. O justo pelos injustos. O santo pelos pecadores. Jesus morreu a nossa morte para que nós pudéssemos viver a sua vida.

Foi há dois mil anos atrás, num dia como hoje — em que o sol se escureceu, deixando o clima cinzento, frio, sombrio e sem cor — que Jesus morreu. Morreu por mim, morreu por você, para que um dia o sol voltasse a brilhar, e, assim, nós pudéssemos voltar a sentir o calor, a alegria, o esplendor e a expressão viva do amor do Pai. Esse dia se chama hoje. Por isso, pare de perder tempo. Pare de abandonar o Pai. Pare de dar as costas para aquele que sempre pensou, e continua pensando, em você.
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“Disse Jesus: amem uns aos outros como eu amo vocês. Ninguém tem amor maior que este: de dar alguém a sua própria vida pelos amigos.” – João 15.12

“Se vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está no céu, dará coisas boas aos que lhe pedirem!” – Mateus 7.11

“Quantas vezes eu quis abraçar todo o seu povo, assim como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram!” – Mateus 23.37

“E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra até à hora nona, escurecendo-se o sol.” – Lucas 23.44

:: Um passo atrás ::

"Refleti em meus caminhos e voltei os meus passos para os teus testemunhos. Eu me apressarei e não hesitarei em obedecer aos teus mandamentos."
Salmos 119.59

"Se meus passos desviaram-se do caminho, se o meu coração foi conduzido por meus olhos, ou se minhas mãos foram contaminadas, que outros comam o que semeei, e que as minhas plantações sejam arrancadas pelas raízes".
Jó 31.7

“Esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus."
 Filipenses 3.13

“Disse-lhes Jesus: Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”
 Mateus 11:28-30

Quando se está à beira de um precipício, dar um passo atrás, na verdade, é dar um passo à frente.

Sim, existem momentos em que é preciso voltar atrás para poder avançar. É preciso tirar os olhos fitos no futuro e fixá-los por um instante no passado, para superar traumas e problemas mal resolvidos que lá ficaram aprisionados juntos com nossas almas.

Dar um passo atrás, às vezes, significa seguir adiante...progredir.

Chorar a perda para poder sorrir.
Perder para aprender a valorizar.
Sentir-se só para sentir saudade.

Assumir a derrota para saber vencer.
Fechar algumas portas para abrir novos horizontes.
Aceitar o medo para alcançar coragem.

Admitir o erro para aprender com ele.
Lembrar para poder esquecer. E esquecer para recomeçar. Perdoar.
Reconhecer a própria fraqueza para se humilhar. E se humilhar para ser exaltado. Pedir perdão.

Desvelar as cicatrizes para conseguir tratá-las.
Derramar lágrimas para lavar a alma.
Libertar-se do passado para viver o presente.

Esvaziar o interior de tudo que é efêmero para encher o coração do que dura para sempre.

Morrer para o mundo, a fim de nascer de novo para Aquele que faz tudo novo.

Asfixiar o peso que sufoca a alma e, assim, respirar o Amor que dissipa toda culpa.

Diminuir o meu eu para que em mim, em meu inóspito jardim, volte a crescer Deus...volte a brotar a paz que um dia eu perdi: a paz que excede todo o entendimento.

Começar do zero, como se nada tivesse acontecido. Como se não houvesse marcas, lágrimas, decepções. Como se nunca tivéssemos sentido dor ou frustração. Como se nunca tivéssemos sentido culpa. Como se não houvesse rugas em nossa face, mas apenas a suavidade e a leveza da pele intocada e inocente de um bebê.

Renascer, recrescer. Renovar, revigorar, reconciliar.

Caminhar, passo a passo, cair. Enxugar as lágrimas, recomeçar, continuar caminhando. Sem parar, sempre em frente...pois recomeçar é dar um passo à frente. Mas dar um passo à frente, às vezes, é dar um passo atrás.

Por isso, pare de caminhar por um instante. Faça uma breve pausa e reflita se você precisa dar um passo atrás. Porque para existir recomeço, não pode existir passado ferido.


Por Fernando Khoury

:: Castelos de Areia ::

"Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína."

(Mateus 7:24-27)

Pare tudo o que você está fazendo. Feche os olhos do coração. Fique em silêncio. Tente, por alguns instantes, trazer à sua mente tudo aquilo que já aconteceu em sua vida. Todas as pessoas que te fizeram sorrir, todas as pessoas que te fizeram chorar... Todos os sonhos que foram frustrados, todos os sonhos que se realizaram... Deixe o filme de sua vida passar pela sua cabeça nesta hora. Enfim, neste momento de reflexão, você deve preencher os seus pensamentos com todos os acontecimentos e com todas as pessoas que te fizeram ser a pessoa que é hoje.

Com apenas alguns segundos de dedicação a este exercício mental, você pode perceber muita coisa.

Você percebe que já deu muito valor para quem não merecia. E, com isso, você aprende a se valorizar... e compreende que o amor ao próximo só existe se houver, antes, amor próprio.

Você percebe que chamou de amor o que era uma simples ilusão... E você aprende que o amor verdadeiro não ilude ninguém.

Você percebe que basta uma só mentira para destruir a mais firme fortaleza da confiança... E você aprende que os mentirosos são os mais covardes, pois têm medo de encarar a realidade.

Você percebe que no mais lindo beijo pode estar escondida a mais terrível traição... E você aprende que as aparências podem enganar, e muito.

Você percebe também que os seus melhores amigos não são mais os mesmos de dez anos atrás... E você aprende que os melhores amigos só são reconhecidos nas piores e mais difíceis situações.

Você percebe que a dor da decepção te fez desistir de sonhar muitos sonhos que cultivava... E você aprende que, mesmo assim, vale a pena cultivar novos sonhos, pois o sonho é o motor da vida. Viver sem sonhar é ser pássaro e não voar.

Você percebe que muita coisa não aconteceu do jeito que você queria ou da forma que imaginou que seria... E você aprende que nem tudo acontece como você planejou, mas nem por isso as coisas deixaram de acontecer na sua vida.

Você percebe que o mundo não dá respostas para todas as suas perguntas... E você aprende que viver sem o mistério da dúvida não teria tanta graça. Você compreende que Deus não quis revelar o propósito de todas as coisas ao homem para que pudéssemos aprender a confiar nEle.

Você percebe que existem pessoas que não se cansam de machucar as outras... E você aprende que não importa o tamanho da ferida...um dia ela vai cicatrizar.

Mas, de todas as percepções, a mais importante é a de que o tempo passa e não volta mais. É a percepção de que quase tudo na vida é inconstante. Como diz Lulu Santos, a vida vem em ondas, como o mar, num indo e vindo infinito. É verdade. A vida é uma eterna mudança, é um contínuo adaptar-se... A vida é a escola do recomeço.

Cada onda nasce de um jeito e termina de um modo totalmente diferente da forma que nasceu. O vento, seja forte ou fraco, molda e guia as ondas por onde bem entende... No infinito do oceano, há muita onda, há muito vento, há muitas variáveis... E a vida também é assim.

Vivemos sob a inconstância e insegurança do mar, e somos tão vulneráveis que, a qualquer momento, um vento inesperado ou uma onda disforme pode vir e engolir nossos planos. Apesar disso, muitas pessoas insistem em colocar a areia como único fundamento dos seus projetos de vida. Pare e pense: a vida já é rápida e insegura demais para você perder tempo fazendo dos seus planos e sonhos meros castelos de areia.

Por esse motivo, devemos ter uma mudança radical de atitude quanto aos projetos que temos para nossa vida. Por mais lindo e luxuoso que seja o castelo que você está construindo, lembre-se que basta a mais leve brisa ou a menor gota da onda do mar para fazer desmoronar todo o seu castelo em poucos segundos. Todo o trabalho, energia e tempo que você perdeu para construir esse imenso castelo ficarão reduzidos a um monte de espuma e areia. Mais cedo ou mais tarde, uma onda virá e destruirá o que você levou tanto tempo para construir.

Todos nós, algum dia, já cultivamos castelos de areia. Olhe para sua vida... Quais são os seus castelos de areia? O que desmoronou na sua vida? O que está prestes a desmoronar? O que na sua vida é feito de areia? É o cultivo de amizades com pessoas que você sabe que não são companhias boas e saudáveis? É o namoro com uma pessoa que você sabe que não te merece? É a vontade momentânea de curtir a vida, mesmo que isso leve você a perder o que já conquistou de duradouro até então? É a insistência num relacionamento que você sabe não ter futuro ou com uma pessoa que só te traz dor e sofrimento?

Pare de perder tempo. Destrua você mesmo seus castelos de areia, antes que eles destruam você. Porque o que é feito de areia pode até ficar um tempo de pé, mas sempre desmorona no final. Por isso, comece agora a construir planos sólidos, pois os maiores sonhos só se realizam se possuírem como base um forte fundamento. E lembre-se: mais vale um simples casebre sobre a rocha, do que o mais belo e suntuoso castelo sobre a areia. Pense nisso. Se Jesus pensou, você também deve pensar.

Por Fernando Khoury
:: Não vire a página. Feche o livro! ::

"Esquecendo-me das coisas que para trás ficaram e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus."

(Filipenses 3.13)

Quando a gente menos espera, vem a vida e nos surpreende. Sim, é verdade. Os planos que você demorou tanto para construir e aqueles sonhos que você achou que tivessem começado a se realizar podem ruir de uma hora pra outra, num piscar de olhos. As perguntas que você demorou tanto pra responder não importam mais, pois novas perguntas – ainda sem resposta – surgiram.

O que era só estabilidade torna-se instável. O que era seguro, inseguro. O que até então era uma rocha inabalável vira areia levada pelo vento. E o farol que até então te guiava e iluminava seu caminho, se apaga. Na escuridão, tudo parece ter se perdido. Quando tudo fica escuro, você mesmo se sente perdido.

A vida é assim: momentos de tristeza interrompidos por breves momentos de alegria. Mas isso não quer dizer que não se possa ser feliz. Pelo contrário, a verdadeira felicidade está justamente nesses momentos que a vida lhe reserva – sejam eles de tristeza ou de alegria. Como diz Johnny Welch, "aprendi que todo mundo quer viver no cume da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa". É verdade. A felicidade genuína está na forma de caminhar pelos percalços que a vida te impõe, não importando se você chegou ou não ao destino planejado.

Por exemplo: se tem uma coisa que a vida me ensinou, mais de uma vez, foi a dar adeus – seja por morte física, seja por morte emocional – para pessoas que aprendi a amar. Pode até não parecer, mas ser obrigado a dar adeus para alguém que você ama, contra sua própria vontade, é uma das piores dores que a alma humana pode sentir.

Contudo, não é o fato de eu ter passado por um momento de dor como esse que a minha vida não possa ser feliz. Ela pode! Isto só é possível porque a felicidade deve estar na forma de olhar, e não no que se olha. Só por essa razão é que a felicidade é capaz de existir também nos momentos de tristeza.

Nesses momentos de escuridão, uma boa coisa a se fazer é mudar. Mudar a direção, mudar os planos, mudar as idéias. Abrir outras portas, trocar de música preferida, deixar de ser quem era e descobrir dentro de si um “novo eu”, melhor que o de outrora. A mudança é essencial para quem quer sair do mistério da escuridão apto a enxergar a luz novamente. "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia; e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre, à margem de nós mesmos..." (Fernando Pessoa).

Na vida, temos que aprender a não deixar de regar algumas pétalas da rosa pelos simples fato de ter sentido a dor de um de seus pequeninos espinhos. Como dizia Shakespeare, "não é digno de saborear o mel aquele que se afasta da colméia por medo das picadas das abelhas". Devemos ser dignos de saborear o mel; devemos ser dignos de sentir o aroma da rosa, ainda que tenhamos medo – no futuro – de que a dor possa vir a fazer brotar uma lágrima de nossos olhos. Pois o objetivo da lágrima é lavar os nossos olhos para tirar o cisco que nos impede de enxergar o brilho das novas oportunidades que nascem todo dia ao nosso redor.

Lembre-se: a vida pode trazer perdas, mas traz também novas oportunidades! Portas fechadas são portas abertas para novos horizontes. Por isso, aprenda a recomeçar. Às vezes não basta virar a página; é preciso fechar o livro e começar a escrever uma nova história. Quem não aprendeu a recomeçar, não aprendeu a viver. Quem não aprendeu a escrever uma nova história, apenas passou pela vida – não viveu. Quanto a mim? Fechei o livro e comecei a escrever uma nova história. Estou aprendendo a viver!

P.S.: Se você ainda não conseguiu fechar o livro, escreva pelo menos um novo final.

Por Fernando Khoury
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