Existe uma voz interior, inaudivelmente sutil e silenciosa, que
grita gentilmente dentro de nós. Não há quem não consiga ouvir. Não há quem não
sinta. Porém, há quem consiga ignorá-la. Há aqueles que passam a vida tentando
sufocá-la, na vã esperança de que esse sussurro gracioso venha a morrer por
falta de ar e, um dia, simplesmente pare de falar, de advertir, de orientar.
Mas não para. Nunca para.
Apresento-lhes a consciência: essa voz gentil, mas eloquente,
que vem de dentro e lança o ser humano para fora de si, lhe concedendo a benção
da auto-observação; essa voz suave, porém confrontadora, que oferta a todos
aqueles que foram feitos à imagem e semelhança de Deus a possibilidade de
contemplar seu íntimo e, como num espelho, se tornarem espectadores de si
mesmos.
“A consciência é o umbigo da alma” – já dizia o psicanalista
austríaco Viktor Frankl. Em outras palavras, se o umbigo físico é um sinal que
evidencia que um ser humano teve sua origem num outro ser superior e anterior
que o amou, sustentou, alimentou e gerou, o umbigo abstrato – ou seja, a
consciência – nos mostra que essa voz foi gravada em nossos corações por outro
ser pessoal, anterior e superior a nós, que, com muito mais razão e
profundidade, nos amou, sustentou, alimentou e gerou.
A consciência é esse presente de Deus que mostra nossa origem,
mas faz bem mais do que isso: empurra e impulsiona aqueles que não sufocam a
divina voz de volta para Aquele que os criou. A consciência é essa voz
que nos mostra de onde viemos e nos ensina para onde devemos voltar: nos
mostra o caminho de volta pra casa.
Deus fez questão de não esconder essa valiosa informação de suas
criaturas. A Bíblia, em sentido completamente antagônico à síndrome relativista
pós-moderna, ensina que existe algo no interior do ser humano que ecoa o
"sim" e o "não" de Deus (Romanos 2.14-16) – a
consciência! O certo e o errado, segundo os padrões de um Deus amoroso, santo e
justo, estão gravados no coração do homem e fazem parte do que ele é, não
importa a cultura, o tempo ou o lugar que venha a ocupar no cosmos. A
consciência é o meio pelo qual Deus se manifesta graciosa e continuamente a
todo ser humano, seja ele religioso ou não, seja ele cristão ou não. Todo ser
humano possui, em seu íntimo, essa voz, essa consciência de que Deus existe. Nem
todos admitem isso, é verdade. A maioria opta por sufocar a divina voz e acaba não
enxergando o próprio umbigo da alma, que aponta para a realidade de um Deus
Criador.
O simples fato de cada uma das criaturas possuir consciência já
aponta para a graça do nosso Consciente Criador, pois mostra um Deus que,
deliberadamente, optou por ceder espaço existencial para que outras
consciências pudessem, livremente, coexistir e interagir em unidade com a Dele.
Infelizmente, talvez por não gostarmos tanto assim de unidade e, menos ainda,
de sermos contrariados, utilizamos das nossas consciências para nos rebelar
contra a Consciência de Amor que nos gerou. E, assim, utilizamos nossas
consciências, fruto do espaço existencial proporcionado pela graça desse Deus
amorosamente consciente, para nos voltarmos contra a consciência amorosa do
Deus da graça. Por vontade própria, cortamos o cordão umbilical que nos unia a
Deus. Sentimos dor. Choramos. Por natural, não há quem rompa com Deus que, no
final das contas, não rompa consigo mesmo. Cessar com a luz é flertar com as
trevas. Romper com a vida é abraçar a morte. Nós abraçamos.
Mas Deus não desistiu... Deus nunca desiste de nós. Seu amor
pelo ser humano é tão inexplicavelmente persistente que "não é de se
estranhar que um ser capaz de ceder de seu próprio espaço entre na
história, espaço que nos foi concedido, para nos resgatar" (Ariovaldo
Ramos). E foi isso que Ele fez. Desceu, despiu-se de sua glória, se fez como um
de nós, viveu conscientemente a vida que não conseguimos viver. Na cruz se
entregou, sofreu voluntariamente, morreu a nossa morte. O Filho ressuscitou,
venceu a morte, nos ofereceu a única vida capaz de libertar nossas consciências
da escravidão e rebeldia para, enfim, levá-las de volta para o lugar de onde
nunca deveria ter saído: o amor consciente do Pai.
Um Deus Pai, que pelo
cordão umbilical da consciência humana, mostra sua face materna e nossa origem
de amor. Um Deus Filho, que pelo cordão umbilical da cruz, nos resgatou e uniu
novamente ao útero do Deus Pai. Um Deus Espírito, que pelo cordão umbilical do
conselho, liberta nossas consciências e nos convence da justiça, do pecado e do
juízo (João 16.8).
Não negligencie sua consciência; ela é o umbigo que conta a história
da sua vida: de onde você veio, porque está aqui e para onde você pode ir. E para
aqueles que ainda se perguntam se Adão, o primeiro ser humano criado por Deus,
tinha umbigo, a resposta nunca esteve tão clara: a consciência era o umbigo de
Adão!
Por Fernando Khoury
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