"Bem-aventurados
os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia." (Mateus 5.7)
Quem nunca notou o afastamento de
alguém? De uma pessoa que antes era próxima, se fazia presente, ativa, participante
e, por isso mesmo, era sempre lembrada? Se não todos, a maioria sempre nota.
Mas essa mesma maioria que sempre nota facilmente se acostuma com a ausência em
si. Não deveria.
O curioso é ouvir as explicações que
brotam – talvez por terem sido propositalmente enxertadas por um maquiavélico agricultor
– no inconsciente coletivo: “fulano está mais distante por causa do trabalho”, “é
porque ele casou”, “ah, ele está com muitos afazeres”, “está estudando pra
concurso...”.
Não que essas explicações não
tenham conexão com a realidade dos fatos. Não que essas justificativas sejam falaciosas.
De fato, muitas vezes, a pessoa que se afastou está realmente trabalhando
muito, ou dando especial atenção ao novo cônjuge, ou cheio de problemas para
resolver, ou, então, quem sabe, estudando horrores para ser aprovado num
concurso.
Contudo, aceitar tais fatos como reais
justificativas para o afastamento de alguém beira ao comodismo inocente e
irresponsável de aceitar que nos digam que “fulano se afastou porque está
vivendo”. E ninguém se afasta por estar vivendo! As pessoas se afastam, isto
sim, por tudo e todos que agridem e machucam sua vida: decepções, frustrações, mentiras, dor... lágrimas muitas
vezes silenciosas, ocultas, internas, totalmente imperceptíveis para aqueles
que se contentam com explicações do tipo “fulano se afastou porque está vivendo”.
Lembre-se: ninguém se afasta por
estar vivendo. Pessoas se afastam por estarem sofrendo. Da próxima vez que
alguém, antes próximo, se tornar ausente, você tem o dever de perguntar a si
mesmo: “O que está por detrás dessa ausência?” “O que esse alguém está
sofrendo?” E, depois, faça-se presente para aquele que se ausentou. Faça-se
próximo daquele que se afastou. Seja ouvidos para aquele que não tem o que
falar. Seja abraços para aquele que, encolhido em sua dor, não vê motivos para
abraçar. Chore junto com ele. Ajude a enxugar suas lágrimas com a toalha da
oração.
Ter misericórdia é ter compaixão
pela necessidade do próximo. É se afeiçoar à sua dor, tristeza e sofrimento. Não
se torne apático e insensível às lágrimas ocultas do afastamento de alguém –
até porque amanhã o “alguém distante” pode ser você. Isso sim é viver
genuinamente o amor de Cristo.
Por Fernando Khoury
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