Quem nunca notou o afastamento de alguém? De uma pessoa que antes era próxima, se fazia presente, ativa, participante e, por isso mesmo, era sempre lembrada? Se não todos, a maioria sempre nota. Mas essa mesma maioria que sempre nota facilmente se acostuma com a ausência em si como se fosse algo normal. Não deveria.
O curioso é ouvir as explicações que brotam – geralmente por terem sido propositalmente enxertadas por um maquiavélico agricultor – no inconsciente coletivo: “fulano está mais distante por causa do trabalho”, “é porque ele casou”, “ah, ele está com muitos afazeres”, “está estudando pra concurso...”, "está numa fase de mudanças e questionamentos pessoais".
Não que essas explicações não tenham conexão com a realidade dos fatos. Não que essas justificativas sejam sempre falaciosas. De fato, muitas vezes, a pessoa que se afastou está realmente trabalhando muito, ou dando especial atenção ao novo cônjuge, ou cheio de problemas para resolver, ou estudando horrores para ser aprovado num concurso, ou, então, quem sabe, revendo alguns valores e direcionamentos que quer aplicar à sua vida.
Contudo, aceitar tais fatos como reais justificativas para o afastamento de alguém beira ao comodismo inocente e irresponsável de aceitar que nos digam que “fulano se afastou porque está vivendo”. E ninguém se afasta por estar vivendo! As pessoas se afastam, isto sim, por tudo e todos que agridem e machucam sua vida: decepções, frustrações, mentiras, dor... lágrimas muitas vezes silenciosas, ocultas, internas, totalmente imperceptíveis para aqueles que se contentam com explicações do tipo “fulano se afastou porque está vivendo”.
Lembre-se: ninguém se afasta por estar vivendo. Pessoas se afastam por estarem sofrendo. Da próxima vez que alguém, antes próximo, se tornar ausente, você tem o dever de perguntar a si mesmo: “O que está por detrás dessa ausência?” “O que esse alguém está sofrendo?” E, depois, faça-se presente para aquele que se ausentou. Faça-se próximo daquele que se afastou. Seja ouvidos para aquele que não tem o que falar. Seja abraços para aquele que, encolhido em sua dor, não vê motivos para abraçar. Chore junto com ele. Ajude a enxugar suas lágrimas com a toalha da oração.
Ter misericórdia é ter compaixão pela necessidade do próximo. É se afeiçoar à sua dor, tristeza e sofrimento. Não se torne apático e insensível às lágrimas ocultas do afastamento de alguém – até porque amanhã o “alguém distante” pode ser você. Isso sim é viver genuinamente o amor de Cristo.
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