:: Uma perspectiva cristã do sofrimento ::


Viver é um risco. Pelo simples fato de existirmos, estamos todos expostos e vulneráveis aos mais variados tipos de dor e decepção. Fatalidades absurdas, que fogem ao nosso controle, podem nos atingir e mudar o rumo das nossas vidas a qualquer momento. Podemos sofrer sem merecer. Podemos semear amor e alegria e, mesmo assim, colher lágrimas e tristeza. Num contexto desses, será que vale a pena mesmo viver? O que a Bíblia tem a dizer para nós sobre o sofrimento humano?

Primeiro, a Bíblia nos diz que as coisas não foram sempre assim. No princípio de tudo, Deus decidiu criar um mundo originalmente bom, sem dor, sem sofrimento, sem lágrimas. Deus criou os céus e a terra e, em amor, criou o ser humano à sua imagem e semelhança. Fez o homem e a mulher livres em suas decisões e firmou com eles uma aliança para que pudessem desfrutar não apenas de uma criação perfeita, mas também para que houvesse, desde o início, um relacionamento de amor igualmente perfeito e direto do Pai com seus filhos.

Mas os filhos afetaram a qualidade do seu relacionamento com Deus. Decidindo desconfiar das palavras do seu próprio Pai e Criador, preferiram dar crédito à voz de outra criatura já rebelada contra Deus, e juntaram-se a ela em sua rebeldia. Os filhos rebeldes decidiram sair de casa: se extraviaram de Deus. E como fora de Deus não pode existir vida, o grito de independência dos filhos foi auto-condenatório: o ser humano bradou ao Pai “independência ou morte” – e morreu! Porque nada no universo é tão autossuficiente a ponto de conseguir subsistir sem Deus e fora daquele que é a própria vida em Si. Nem mesmo o ser humano. Nem mesmo a perfeição do mundo. 

Assim, com a queda do homem, a natureza também caiu. A dor entrou no mundo e, desde então, a natureza criada geme como se estivesse em dores de parto (Rm 8.22). O próprio parto, aliás, carrega em si a antítese de tornar a experiência da dor uma porta de entrada para que a beleza da vida possa desabrochar. O parto, como magnífico ritual estabelecido por Deus para celebrar a vida, já é, em si, um prenúncio do ambiente paradoxal que nos aguarda nesse mundo: sentimentos tão divinos como alegria, amor, prazer e vida convivendo com sentimentos tão humanos como tristeza, ódio, sofrimento e morte. 

Mas Deus não nos abandonou em nossa rebeldia e maldade. Mesmo rebeldes e vazios, Deus resolveu nos manter nEle e, mais do que isso, nos comunicou parte de sua bondade; do contrário, já teríamos destruído uns aos outros e o próprio mundo em que vivemos. Deus também não nos abandonou em nossa morte; desde o fatídico dia em que nos desviamos de Deus, o próprio Deus tem tratado de promover vida em meio à morte e ordem em meio ao caos. Se nós continuamos existindo é só porque Deus, desde o princípio, continuou nos amando e nos mantendo nEle.

A boa notícia é que esse contexto de dor em que vivemos é temporário! E é isso o que a Bíblia tem a dizer para nós: o ambiente de sofrimento que eu e você experimentamos hoje, apesar de ser fruto do nosso afastamento voluntário de Deus, um dia vai acabar! Um dia Deus enxugará dos nossos olhos toda lágrima. Nesse dia, não haverá mais dor, nem morte, nem tristeza, nem choro, nem dor (Apocalipse 21.4). Porque Jesus, Deus encarnado, veio selar a decisão amorosa de Deus de salvar a humanidade, imputando sobre Si mesmo as consequências da nossa decisão deliberada de viver eternamente sem Ele.

É por isso que, mesmo num ambiente paradoxal, suscetível a fatalidades absurdas e inexplicáveis, a vida continua valendo a pena ser vivida: pois o próprio Deus, em Jesus, mostra que não desistiu de nós. Como Pai de amor, Deus doou o seu Filho não apenas para compartilhar e sentir um sofrimento que deveria caber somente a nós, mas para dar solução definitiva ao ápice de toda e qualquer dor: a morte. Jesus ressuscitou! E, como Deus de amor que é, deixou, mais uma vez, palavras de vida para nós:

“Assim acontece com vocês: agora é hora de tristeza para vocês, mas eu os verei outra vez, e vocês se alegrarão, e ninguém lhes tirará essa alegria.Naquele dia vocês não me perguntarão mais nada.” (João 16.23)

“Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo." (João 16.33)

"Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente.” (João 11.25)

Hoje você tem uma nova chance. Dessa vez, faça diferente. Dê crédito à voz de Deus. Não duvide. Creia em Jesus como Senhor e Salvador da sua vida. E da próxima vez que algo ou alguém te fizer chorar, lembre-se: um dia, lágrima nenhuma vai mais brotar dos meus olhos, porque Deus veio inaugurar na cruz do Calvário o início de um novo tempo... um novo céu e uma nova terra!



Por Fernando Khoury
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