:: Apedrejamento Moral ::


“Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E a lei de Moisés diz que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? [...] Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra”. (João 8)

Uma mulher foi pega em flagrante adultério. Diante da lei dos judeus, a pena para este ato era o apedrejamento dos adúlteros até a morte: uma execução pública, fria e sanguinária, praticada pelos fariseus e escribas, pessoas que se diziam intérpretes e defensoras da Palavra de Deus.

O tempo passou e o apedrejamento físico, tal como descrito na Bíblia, só persiste em alguns poucos países muçulmanos. Mas o apedrejamento moral...ah, esse persiste em todas as igrejas modernas. Na verdade, esses dois tipos de apedrejamento são praticamente iguais. A única diferença é que, enquanto no apedrejamento físico lança-se a pedra com a mão a fim de ferir o corpo do acusado, no apedrejamento moral lança-se uma palavra com a boca a fim de ferir sua alma. Em ambos, há morte do acusado: no primeiro, há morte física; no segundo, há morte espiritual.

Os mesmos fariseus e escribas dos tempos de Jesus estão presentes nos bancos das igrejas contemporâneas, e são os principais responsáveis pelo dissimulado apedrejamento moral e ético que se vive hoje. Assim como antigamente, esses fariseus e escribas de hoje em dia confundem exortação com acusação; pedido de oração com fofoca e misericórdia com prazer na desgraça alheia.

A (triste) realidade é que muitos cristãos não se lembram de levar suas Bíblias para os cultos, mas quase nenhum deles se esquece de levar um pote cheio de pedras, para usá-las em “nome do Senhor”. Logicamente, não me refiro às pedras extraídas de rochedos, mas sim às pedras extraídas de corações de rocha, endurecidos e distantes do verdadeiro amor pregado por Jesus. Isto porque só é capaz de atirar pedras num irmão quem possui um coração de pedra.

Muitas igrejas atuais estão assim, cheias de juízes prontos e ávidos para julgar o próximo, mas pouquíssimos sacerdotes. Aliás, onde estão os sacerdotes? Onde estão os mediadores entre Deus e o povo, para oferecerem sacrifícios e orarem em seu favor? Onde estão aqueles que ajudam o pecador na expiação de seus pecados e na sua reconciliação com Deus? Chega de falsos sacerdotes! Chega de juízes! Chega de cristãos que, em nome do amor, usam palavras como pedras afiadas para arrancar sangue das almas das pessoas, condenando-as à eterna morte espiritual. Deus não precisa de juízes; Deus precisa de sacerdotes. Deus não é como os homens, que todo ano abrem concurso para juízes. Deus só abre concurso para sacerdotes, porque é através do sacerdócio que Ele transforma a vida do ser humano.

Essa predisposição humana de ser juiz do próximo, e não sacerdote, foi percebida por Jesus. Por isso, preocupado não só com as pedras que podem matar o corpo, mas também com as palavras que podem matar a alma, Ele proferiu as seguintes palavras: “Vocês já conhecem o mandamento que diz ‘não matarás’. Quem matar será julgado. Eu, porém, lhes digo que qualquer um que ficar com raiva do seu irmão ou contra ele proferir um insulto, este será julgado” (Mateus 5.21). Em outras palavras, o que Jesus está dizendo é que Deus não se importa apenas com a pedra que a mão do homem atira, mas também com a palavra que a sua boca pronuncia contra o próximo. Para Deus, o homicídio não consiste apenas em fazer o coração de alguém parar de bater; consiste também em fazer a alma de uma pessoa chorar.

Deus pensa assim porque Ele tem um alto conceito a respeito da vida humana. O ser humano, em toda sua completude, é sagrado aos olhos de Deus e, por essa razão, ofender o ser humano, ainda que minimamente, é ofender o seu criador. É como se Jesus estivesse dizendo: “A adoração a Deus envolve o respeito ao próximo. Não espere do seu Deus vida, se você não está disposto a promover a vida do seu irmão. Não espere do seu Deus palavras de vida eterna e paz, se a sua boca só profere palavras de condenação e intriga contra o seu semelhante”.

Que nós, a partir de hoje, possamos abrir nossas bocas apenas para orar, e não mais para apedrejar; apenas para perdoar, e não mais para acusar; apenas para promover paz, e não contenda. Não brinquemos com aquilo que é sagrado aos olhos de Deus. Não brinquemos com o ser humano.

por Fernando Khoury
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