:: Não somos todos macacos (inclusive na política) ::


Não tenho vergonha de ser brasileiro; tenho vergonha dos brasileiros que o são ao meu lado, nesta pátria amada e desalmada chamada Brasil.

Nas últimas semanas, os brasileiros que têm me envergonhado mais são, sobretudo, os "nossos" jornalistas, em sua maioria extremamente tendenciosos e manipuladores - alguns, confesso, por serem bem preparados demais, outros por serem muito despreparados mesmo. Não sei exatamente qual é o caso dos Willians globais (Waack e Bonner). Acredito ser um misto dos dois, com ênfase no primeiro e tempero do segundo.

Como no Brasil não existe opinião pública - o que existe é opinião publicada - estamos em péssimos lençóis. Basta olhar o nível dos debates e das perguntas "políticas" feitas à Marina Silva, por exemplo, simplesmente por ela ser cristã evangélica - mesmo sem nunca ter se utilizado desse rótulo para fins eleitoreiros. O tom das perguntas e da condução das entrevistas vai, aos poucos, escancarando a intolerância desses falsos tolerantes, arautos hipócritas do politicamente correto:
- "Marina, você irá tomar decisões políticas usando versículos bíblicos aleatoriamente e não na realidade dos fatos?"
- "Marina, qual a sua opinião pessoal e íntima sobre o casamento gay?"

Perguntas superficiais, banais, preconceituosas. Não tanto pelas perguntas em si, mas mais pelos comentários tendenciosos dos próprios entrevistadores após ouvirem as respostas de Marina.

Ambas as perguntas são de uma imbecilidade sem tamanho. Por vários motivos.
Primeiro, porque partem do pressuposto de que é possível haver uma visão neutral da realidade, como se existissem seres humanos que não pautassem suas decisões e convicções com base em crenças pessoais. Como se os ateus não nutrissem crenças pessoais. Como se as manchetes e matérias de jornais fossem puritanamente isentas. Como se as pesquisas científicas não fossem direcionadas intimamente por um conjunto de convicções íntimas. Como se Richard Dawkins, ao propor a possibilidade de aborto em fetos com síndrome de Down, estivesse sendo totalmente isento e científico.

Segundo, porque levam o eleitor que desconhece a Bíblia a crer na falácia de que ela é um livro casuístico, burro e irracional, que possui resposta para todas as perguntas e utilizado exclusivamente por pessoas igualmente casuísticas, burras e irracionais, que acreditam que algum livro mágico poderia, de fato, possuir resposta para todas as perguntas. Como se o religioso, seja ele cristão evangélico ou não, fosse necessariamente um ignorante estúpido desplugado da realidade dos fatos. Confesso: aqui, grande parte da culpa é nossa, cristãos evangélicos que, em boa parte, vivem um evangelho circense, tosco e mágico, sem saber explicar a razão da esperança que existe em nós.

Terceiro, porque ignoram o fato de que os outros presidenciáveis também tomam decisões com base em convicções íntimas e crenças pessoais, declarem-se eles irreligiosos ou não. Se o Eduardo Paes chama um pai de santo pra fazer um "trabalho" pra não chover no Ano Novo no Rio de Janeiro, ninguém questiona; afinal o que não se pode fazer é orar e ser cristão evangélico. Se os políticos em geral se utilizam de gurus e de outros pseudo iluminados espirituais para tomarem decisões práticas, ninguém está interessado; afinal, como diz o filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé, ser zen-budista e acreditar na força dos astros, nos dias de hoje, é considerado intelectualmente "cool" e uma virtude racionalmente admirável. Por outro lado, ser cristão e acreditar no poder da cruz é tido como uma loucura fundamentalista, deplorável e burra, fruto de um surto mental.

Quarto, porque desconhecem que a liberdade de crença - que inclui a liberdade de não se crer em nada -, hoje existente nas grandes democracias do mundo, é fruto do sangue de cristãos que entregaram suas vidas para que esse direito viesse a existir.

Quinto, porque ignoram que o conceito de laicidade do Estado partiu da boca do próprio Jesus, que ensinou seus discípulos a dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. O problema é que o Estado só é laico quando é para retirar o crucifixo dos órgãos públicos, e não para vedar a veiculação de horóscopo, astrologia e afins, além de ideais da ditadura da minoria, em canais públicos educativos.

Sexto, porque se esquivam do fato de ser o cristianismo o berço da ciência e da produção científica, incutindo a falsa ideia de que o ser humano moderno tem que fazer uma escolha forçada entre Deus ou ciência; como se ambos fossem inconciliáveis. Para sua decepção, existem filósofos e cientistas cristãos. Para sua maior frustração, existem cientistas e filósofos não cristãos que acreditam no criacionismo. Para considerável parte dos estudiosos, não precisamos ser todos macacos para lutar contra o racismo e preconceito, como fizeram você acreditar... Pois é! Nem todo quadro é como a mídia pinta.

Sétimo, porque mostram a excrescência de um povo que está mais preocupado com o que o candidato crê do que com o que ele se propõe a fazer com suas crenças; porque mostram a amnésia de um povo de curta memória, que não está preocupado com os escândalos morais cometidos por seres humanos, seja dentro ou fora da religião, seja em nome da crença ou da descrença. Convicções de foro íntimo jamais deveriam ser uma questão pontual para se eleger um candidato, mas sim o compromisso que ele assume diante da nação e o que, de fato, ele faz com suas convicções e crenças pessoais ao exercer um cargo público em nome e benefício de todos.

Por fim, porque não levam em conta que o padrão moral da humanidade, existente em homens e mulheres de todo tempo e cultura, só faz sentido porque Deus de fato existe - pois, como bem disse Dostoiévski, se Deus não existe, tudo é permitido.

Infelizmente, essa tem sido a realidade do Brasil: pode tudo nessa pátria amada e desalmada; uma nação antidemocrática, corrupta, imoral e mensaleira, onde tudo é permitido...pois Deus, se é brasileiro, já não tem mais existido por aqui. Afinal, pelo que parece, já o expulsamos daqui faz tempo.
...

Em tempo: Dilma desistiu de participar da tortura pública e tirana do Jornal da Globo.

Por Fernando Khoury

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:: Uma experiência para a vida toda ::

Mês passado, Rebecca e eu ainda não conhecíamos o "Seu Irineu", nem o "Seu Antônio", nem o "Seu João"... e jamais os teríamos conhecido, não fosse a viagem que fizemos para Barra do Ararapira, uma ilha de pescadores situada no Paraná.

15 horas de carro, 4 horas de barco, nenhum sinal de celular e o modo urbano e confortável de viver nos separavam desses três homens.

Três irmãos, três pescadores.
Três senhores.
Mas mil histórias pra contar.

Mãos calejadas, rugas na face.
Sorriso no rosto.
E muita simplicidade no falar.

"Seu Irineu", o caçula, começou a pescar desde os 9 anos de idade - ofício que aprendera desde cedo com seu pai para sobreviver. Hoje, "Seu Irineu", um exímio sobrevivente, tem 65. Foi ele quem primeiro abriu a porta de sua casa para nos receber e nos fez o convite para nela entrar.

Mas antes do carinhoso convite, a conversa começou conosco ainda do lado de fora da casa e ele do lado de dentro, debruçado sobre sua janela - lugar onde, religiosamente, todas as manhãs, observa quietinho a indescritível paisagem do rio que se mistura sutilmente ao mar.

Foi ali que a gente, que ainda não se conhecia, sutilmente se misturou. Ali, a poucos metros daquela aquarela natural que só mesmo o Criador poderia ter pintado na tela do cosmos, Deus resolveu nos unir.

- "Entra, vocês não querem entrar?", disse calmamente "Seu Irineu", depois de alguns minutos de conversa. Imediatamente, abriu a porta de sua humilde casa de madeira, como quem não aceitasse uma recusa do convite.

Como nos foi recomendado pelo missionário local, antes de entrar na casa de "Seu Irineu", Rebecca e eu tiramos nossos calçados: costume local que denota respeito. Mas talvez não só. Talvez, simbolicamente, assim o seja também porque toda comunhão com Deus e com o próximo seja um lugar digno de ser chamado "terra santa" e, como tal, merecedor de que seus visitantes tirem as sandálias dos próprios pés.

Essa mesma cena - das conversas antes e pós-janela, do convite despretensioso e dos calçados fora dos pés - se repetiu por mais três ou quatro vezes, exatamente da mesma forma, ao longo dos cinco dias que passamos naquela ilha.

Foi ali, naquela casinha de madeira por ele mesmo construída ao longo de 4 penosos anos, que nós nos misturamos...e a partir da qual creio que jamais iremos nos separar.
"Seu Irineu" só queria conversar.

Como alunos de Jesus, tivemos uma aula magna prática sobre algo que o Mestre sabia fazer - e sempre fez - como ninguém: ser ouvidos para quem há muito tempo não sabia o que era ter voz.

Você pode até pensar que o custo-benefício da viagem não valeu a pena: 19 horas de transporte-3 pessoas. Na calculadora do Reino, a contabilidade é outra. Pessoas nunca não são números...são sempre pessoas, criadas à imagem e semelhança de Deus. Com Jesus, quem perde tempo fazendo conta não tem tempo para amar. Uma vida sempre é o bastante.

Obrigado, Pai, por mais esta experiência na caminhada contigo. Experiência simples e viva o suficiente para, como Cristo, nos marcar profundamente por toda a vida!

Por Fernando Khoury

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:: O Deus-amigo ::

"Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido."
João 15.15

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"A gente não faz amigos; reconhece-os" - diz a frase que, de tão popular, não me arrisco a enunciar seu autor. Acredito piamente na verdade nela descrita. A arte da amizade está mais em encontrar, reconhecer e apreciar um amigo que já existe, mas que você ainda não conhece, do que propriamente criar, do nada ou com a mistura dos ingredientes certos - e uma boa dose de perseverança -, um ser com quem se tem afinidade. Amizade não é receita de bolo, simplesmente por não existirem receitas capazes de gerar uma boa amizade. Amizade é, por assim dizer, a arte de aprender a reconhecer e apreciar amigos que já eram nossos antes de ser. Amizade é empatia, sintonia de almas, harmonia de propósitos que já existiam no cosmos e, um belo dia, pelo propósito divino, se encontraram. Reconhecer um amigo é, portanto, encontrar um tesouro que já existia, mas que você não sabia onde se encontrava.

Logicamente, que o diga o Facebook, a amizade não está na quantidade de pessoas que você conhece, mas sim na quantidade de pessoas que você, como amigo, é capaz de reconhecer. E não existe melhor momento para reconhecer verdadeiros amigos do que nos momentos de adversidade. Quando tudo na vida fica escuro e muda de lugar, os amigos se fazem reconhecer, pois o seu brilho está em não se deixarem levar pela volatilidade das circunstâncias.

Talvez esteja aí uma boa definição de amigo: amigo é aquele que, quando tudo muda, não muda com você. Amigo é aquele que, quando tudo fica escuro, brilha pra você. Amigo é quem, mesmo quando as situações da vida se voltam contra você, insiste em permanecer ao seu lado. Amigo é quem, quando a vida te machuca, sente a sua dor e chora a sua lágrima. Amigo é quem em amor até discorda de você, mas está sempre aberto a te ouvir e a te entender. Amigo é quem te compreende sem nenhuma explicação, porque sabe quem você é no íntimo. Amigo é quem te confidencia planos e se alegra quando você lhe confidencia os seus. Amigo não manipula fatos... amigo que é amigo rasga o coração.

Se, por um lado, amigos são reconhecidos pela sua constância inabalável nas adversidades, por outro, sou levado a crer que amigos que mudam de comportamento ao sabor das circunstâncias, no fundo, nunca foram amigos de verdade. Se, quando tudo fica escuro e muda de lugar, o "amigo" também se apaga e muda com você, estamos diante de uma pessoa que provavelmente nunca foi sua amiga, mesmo sempre tendo aparentando ser. Se vestia de amigo, se comportava como amigo, mas amigo nunca foi. Assim como a frase que diz que ninguém faz amigos, mas reconhece-os, ouso dizer que ninguém perde amigos, mas apenas reconhece falsas amizades...pois ninguém pode perder o que de fato nunca foi seu. Se você, como eu, já se decepcionou nessa área, não sofra: o amigo que se vai apenas nos mostra que de fato nunca o foi.

Talvez amigo seja esse alguém que nunca se vai; que carrega em si a marca da imutabilidade divina; que nos faz lembrar de um dos atributos de Deus. Tudo pode mudar; Deus não muda. Tudo pode passar; Deus permanece. Se muda, se passa, não é Deus. Se muda, se passa, não é amigo. Nunca foi!

Jesus, o Deus-amigo, é a perfeita encarnação da amizade.

Quando tudo na vida muda de lugar, Cristo não muda com você. Antes, insiste em permanecer ao seu lado.
- Mesmo diante dos seus pecados, Deus insiste!
Quando tudo e todos se voltam contra você, Jesus te segura pela mão.
- Deus é nosso advogado!
Quando a vida te faz chorar, Jesus chora junto com você.
- Deus sabe o que é sofrer!
Quando ninguém mais quer te ouvir, Cristo é ouvidos para você.
- Deus tem prazer em ouvir o que Ele já sabe que você quer falar!
Quando todos exigem explicações, Cristo te abraça e diz: "meu filho, eu te amo".
- Deus te compreende sem nenhuma explicação!
Quando pessoas próximas se afastam de você e manipulam fatos e informações, Cristo vem e confidencia a você os seus santos propósitos.
- Deus já não te chama mais de servo, mas de amigo!

Por isso, da próxima vez que tudo girar ao seu redor e ficar fora de lugar, lembre-se: é na mudança das coisas que Cristo, o Deus-amigo, se faz reconhecer, pois o seu brilho está em permanecer o mesmo, sempre ao seu lado, sem nunca mudar ou apresentar sombra de variação. Lembre-se da Cruz, lembre-se da ressurreição. A maldição da humanidade sobre os ombros do Salvador não foi capaz de desanimá-lo, nem a morte capaz de afastá-lo. Quando tudo estava prestes a mudar, Deus mudou a mudança. Quando o mundo se movia contra você, Deus entrou na história e moveu o mundo só pra te alcançar. Quando tudo estava prestes a morrer, o Autor da Vida matou a morte e te deu o melhor presente que um amigo poderia te dar.

Jesus: Deus-amigo, Deus-comigo, Deus em mim.

Por Fernando Khoury 

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:: Despedidas ::

"Mais um pouco e já não me verão; um pouco mais, e me verão de novo" - João 16:16
“E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos" - Mateus 28:20

Nunca gostei de despedidas. Pra ser bem sincero, acho que até hoje ainda não aprendi a lidar com elas.
Talvez nunca vá aprender.

Porque ter que dizer ‘tchau’ dói
Aperta o peito
Me faz lembrar que nada
Nunca é nem será inteiramente meu – e isso é bom!

Pois despedidas me lembram o que sou:
Mordomo de tudo
Órfão de tudo

Despedidas me lembram que tudo pode inesperadamente partir
Na mesma velocidade com que chegou
Que se não sou dono de nada – nem de mim
Que dirá dos amigos que Deus me deu!

A alegria da chegada é a dor da partida
Nessa estação que é minha vida
Tem gente que só passa de passagem
Tem gente que chega e, apesar de nunca ir embora, em mim não fica.
Mas tem gente que chega e, mesmo indo, de mim nunca se vai.
A estas pessoas eu chamo amigos.

O que me consola? Nem todo ‘tchau’ precisa significar ‘adeus’.

Eu não nasci para despedidas; nasci para eternizar encontros.
Talvez por isso – mas não só – eu goste tanto de Jesus de Nazaré:
Com o Mestre, se a sexta-feira me consome com seu semblante de luto,
O domingo que se aproxima me arrebata com suas vestes de reencontro...

É Deus me lembrando que veio pra ficar
Que nem mesmo a morte pode dEle me separar
Que apesar da minha rebelde despedida, Ele veio me buscar
Que Jesus, mesmo tendo ido, nunca se foi
Comigo ficou
E um dia vai voltar

Nesse dia, não haverá mais lágrimas, nem morte, nem sofrimento, nem dor...
Talvez, simplesmente, porque não existirão mais despedidas
Pois, em Cristo, o Deus Pai escolheu não dizer ‘adeus’.

Por Fernando Khoury 

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:: Sem palavras ::

“De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança. Ponha a sua esperança no Senhor, ó Israel, desde agora e para sempre!”
Salmos 131.2-3
"Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram."
Mateus 23.37

--

O choro é a forma como o bebê se expressa e, sem palavras, com seu pai conversa
Sempre que sente dor ou algo não vai bem.
O choro é a oração do bebê.
As lágrimas, suas palavras.

O choro é a forma como o bebê que ainda somos, mas fingimos não mais ser, se revela
Sempre que se sente vulnerável e impotente, porém, confiante, pelo pai espera.
O choro é o clamor do bebê que ainda existe dentro de nós.
Nossas lágrimas? Uma oração que nenhuma palavra jamais seria capaz de fazer.

Choremos mais na presença do Pai.
Oremos mais no colo do Pai.
Toquemos mais seu coração com nossas lágrimas.
Como crianças que ainda não sabem falar...
Como filhinhos pequenos, dependentes, indefesos
Que, em palavras, não conseguem expressar
O tamanho da dor que sentem e, por isso, choram.
Mas, porque choram, podem ser consolados
Quando, nos braços maternos do Deus Pai, se veem embalados.

Apagada, nesse momento, é a memória da dor
Substituída pela inconfundível presença do Seu amor.

Por Fernando Khoury 

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:: Domingo eu vou no culto! ::

“É bem comum que aqueles que estão mais longe de Deus se vangloriem mais por estar perto da igreja.” (Matthew Henry)

Não é raro ouvir, no jargão evangeliquês moderno, pessoas da mesma comunidade de fé dizerem umas às outras: "domingo eu vou no culto!". Nenhum problema nisso. Na verdade, apenas um: o risco que pode acontecer - e geralmente acontece - de segmentação da nossa mente; que nos seduz e acomete da falsa e doentia ideia de que existe separação entre profano e sagrado, entre secular e santo, entre música do mundo e música de Deus, entre trabalho profissional e ministério na igreja, entre dia de se dedicar de corpo e alma ao dinheiro e às demais coisas e dia de dedicar tudo que se é e faz a Deus.

Culto não é um lugar aonde você vai; é o modo como você vive.
Culto não acontece num espaço de tempo determinado da semana; acontece o tempo todo, na semana toda.
Domingo é todo dia, toda hora, todo segundo.
Domingo é sábado, domingo é segunda, domingo é terça.
Domingo é onde quer que você esteja.
Porque, onde quer que você esteja, Deus ali também está, porque todas as coisas, na verdade, estão nEle.
Afinal, é nele que vivemos, nos movemos e existimos...o tempo todo, a semana toda, com tudo o que somos e com tudo o que temos.

Vai no culto de domingo? Faz você muito bem.
Só se lembre: domingo não é o primeiro dia da semana. Domingo é a sua vida!
No mais, bom domingo e um ótimo culto pra você.

Por Fernando Khoury 

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:: Dois eus em mim ::

Há um eu em mim que vive de pirotécnicos eventos.
Há um outro que vive de apreciar discretos momentos.

Há um eu em mim que vive de colecionar fitas.
Há um outro que vive de fazer laços.

Há um eu em mim que vive de despedaçar pétalas.
Há um outro que vive de cultivar jardins.

Há um eu em mim que vive de complicar a vida.
Há um outro que vive de desatar nós dentro de mim.
...

Há um eu em mim que vive jurando amar a humanidade.
Há um outro que não se cansa de me ensinar a amar o meu próximo.

Há um eu em mim que vive de colocar compromissos à frente de corações.
Há um outro que vive aprendendo a fazer de corações meu compromisso.

Há um eu em mim que vive se satisfazendo de rótulos vazios, de aparência.
Há um outro que vive à procura de pessoas em extinção, com conteúdo, com essência.

Há um eu em mim que vive de alimentar intrigas e se deleitar em contendas.
Há um outro que em amor me constrange a não transformar em divergência agudas diferenças.
...

Há um eu em mim que vive de ver dias nublados.
Há um outro que vive de me fazer enxergar desenhos nas nuvens.

Há um eu em mim que vive de virar e revirar as mesmas páginas de um velho e desgastado livro.
Há um outro que vive de me ensinar a ler e a escrever a cada dia um novo capítulo.

Há um eu em mim que grita "fulano morreu pra mim" para todos aqueles que me fizeram mal.
Há um outro que me move a orar pelos meus inimigos e me coloca em meu lugar.

Há um eu em mim que, querendo sempre ganhar, põe tudo a perder.
Há um outro que, pondo o meu ego a perder, começou a me ganhar.
...

Há um eu em mim que vive bem apenas nas multidões.
Há um outro que vive pleno na solitude.

Há um eu em mim que vive flertando com a melancolia.
Há um outro que vive eternamente feliz e casado com a esperança.

Há um eu mim que vive de cultivar mágoas.
Há um outro que vive de regar o perdão.

Há um eu mim que vive de machucar com palavras.
Há um outro que vive de afagar o coração.
...

Há um "eu" em mim que vive de viver pra si.
Mas há um outro "eu" - o novo eu que Deus me deu
Que vive de morrer um pouco, a cada dia
Que sabe que o que hoje faço o outro eu jamais faria
Se o Cristo vivo que faz tudo em todos
Não tivesse escolhido viver no velho Adão dentro de mim...
Que sabe que o pecador que em mim habita
Mancharia minha existência não apenas nessa, mas na vindoura vida
Se Aquele que morreu e ressuscitou dos mortos
Não tivesse amado tanto um eu tão perdido de si assim.

Agora já não sou eu quem vive,
Mas Cristo vive em mim.

Por Fernando Khoury 

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:: Ação de Graças... pelas desgraças ::

“Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para vocês”
(I Ts 5.18)

Deus, obrigado por tudo que deu errado, quando eu queria tanto que desse certo.
Obrigado por tudo que deu certo, quando, no fundo, eu torcia para dar errado.

Obrigado por tudo que eu não queria que me acontecesse, mas aconteceu.
Obrigado por tudo que eu queria que me acontecesse, mas, apesar do meu esforço, não aconteceu.

Obrigado pelas portas fechadas
Pelas expectativas frustradas
Pelos sonhos que nunca se realizaram.

Obrigado pelas feridas cicatrizadas,
Pelas lágrimas derramadas e
Pelas feridas abertas que ainda não se fecharam.

Por tudo isso, obrigado.
Porque muita coisa que eu considerava como mal, nem sempre o era.
E o que de fato mal era, em bem o Senhor transformou.
Porque a não realização por ti da benção que tanto pedi, muitas vezes,
Foi a própria benção de que eu tanto precisava.

Pela fé, e contra minha natureza ressentida, meu coração diz: obrigado!
Porque eu sei que, não importa o que me aconteça,
Continuo seguro em suas mãos.
Porque eu sei que tudo na vida pode me ser tirado,
Menos o seu amor e salvação.

Por Fernando Khoury 

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:: Mesmo assim ::

Muitos questionarão suas palavras. Pronuncie-as mesmo assim.
Muitos não entenderão seus motivos. Não desanime de explicá-los mesmo assim.
Muitos continuarão sem entender. Seja paciente mesmo assim.

Muitos não saberão te ouvir. Seja ouvidos para eles mesmo assim.
Muitos dirão o que você não merece ouvir. Ouça-os mesmo assim.
Muitos te provocarão a falar. Se for mais sábio calar, silencie-se mesmo assim.

Muitos não concordarão com o rumo que você tomar. Se Deus direcionou, prossiga mesmo assim.
Muitos não compreenderão suas atitudes. Se Deus confirmou, aja mesmo assim.
Muitos duvidarão do que Deus falou com você. Se Deus falou, permaneça firme mesmo assim; até o fim!

Muitos não compartilharão dos seus sonhos. Continue sonhando mesmo assim.
Muitos falarão mal de você pela frente e pelas costas. Ore por eles mesmo assim.
Muitos te desejarão mal. Deseje o bem para eles mesmo assim.

Muitos, sem motivo, te perseguirão. Seja misericordioso mesmo assim.
Muitos, até mesmo bem intencionados, irão te ofender. Exerça graça mesmo assim.
Muitos não verão o que você vê. Seja compreensivo mesmo assim.

Muitos manifestarão o que pensam sem qualquer amor ou sabedoria. Procure entendê-los mesmo assim.
Muitos não irão te procurar para conversar. Converse com Deus acerca deles mesmo assim.
Muitos colocarão palavras torpes na sua boca e má intenção nas suas atitudes. Persista na obra do Reino mesmo assim.

Alguns desejarão que você insista ficar onde não é mais bem-vindo. Sacuda o pó dos seus pés mesmo assim.
Pessoas amadas irão te machucar. Perdoe-as mesmo assim.
Nem todos saberão te amar. Não desista de amá-los mesmo assim.

Afinal, você nunca mereceu ser amado, mas Jesus te amou mesmo assim.
Afinal, Jesus passou por tudo isso - e muito mais - sem nunca desistir de você
E de mim.

Por Fernando Khoury

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:: O colégio de Deus ::

Estamos todos matriculados no colégio de Deus. A matrícula é gratuita e automática: se dá com a vida. Para ingressar nesse colégio, basta nascer. Os alunos não possuem responsáveis; cada um é responsável por seus próprios atos.

Os ensinamentos são os mais variados – e valiosos! O Supremo Professor, incansavelmente amoroso, não se furta a repeti-los pacientemente, mesmo para aqueles que insistem em não entender. Infelizmente, somos nós, os alunos, que costumamos nos cansar de aprender as lições do Mestre e, impacientemente, desistimos de nos deixar ensinar.

De fato, não é fácil aprender os ensinamentos do Mestre. Diferente do que ocorre nos colégios dos filhos de Adão, o maior entrave para nossa aprendizagem não está na desatenção, tampouco na distração...está no orgulho que cega nossos corações.

Nessa escola, as provas são contínuas e se misturam intrinsecamente com os momentos de aprendizagem. Não existe um espaço de tempo separado para aprendizagem e outro delimitado para se avaliar o que se aprendeu: ambos os momentos se mesclam e se sucedem indefinidamente no tempo, de modo que a prova, muitas vezes, pode vir antes do aprendizado ou – até mesmo – juntamente com ele. A prova não tem hora pré-definida para ser aplicada e pode, inclusive, passar por nós sem percebermos. E o verdadeiro ensinamento, por sua vez, - por causa do nosso orgulho – pode nunca vir a ser aprendido e apreendido, mesmo depois de já termos passado por diversas provas. A depender da cegueira obstinada do nosso próprio coração, o aprendizado nunca irá chegar.

Lembro-me de algumas provas pelas quais passei. Lembro-me que, por diversas vezes, fui reprovado nos primeiros testes. Minha cega obstinação era grande. Sempre dei o meu máximo – o melhor de mim – para me esforçar e conseguir tirar as notas mais altas... Para minha decepção, nunca passei. Não por não tirar notas boas ou ruins, mas justamente por acreditar que sempre merecia tirar uma nota maior do que a que eu realmente alcançara. Não por ser um bom ou mau aluno, mas por sempre me considerar um aluno exemplar.

Demorei a entender que, no colégio de Deus, a lógica é outra. Não são as boas notas, ou mesmo as ruins, que nos fazem ser aprovados, nem são o nosso mérito e esforço pessoal que contam. Pelo contrário. É a convicção de sempre estar muito aquém do que se pode estar que nos faz alunos bons e aprovados. É o senso de imperfeição – a certeza de que sempre dá pra melhorar, pois jamais alcançaremos o gabarito do Mestre – que nos leva à aprovação e nos faz caminhar rumo à Sua perfeição. É o senso de inadequação – a compreensão de que não importa o quanto façamos, jamais seremos amados por Deus por nosso suposto brilhantismo e genialidade – que nos torna adequados e aceitos.

Por mais contraditório que possa parecer, é a convicção de pecado que nos aproxima da santidade do Mestre. É enxergar a sujeira na roupa que nos motiva a querer lavá-la. É notar que as mãos estão sujas que nos faz querer limpá-las. É perceber a impureza do coração que nos possibilita ser impulsionados no desejo de torná-lo mais puro. É reconhecer a nossa real condição que nos atrai incondicionalmente ao infindável amor do Mestre. O objetivo das lições do Mestre é simplesmente esse: fazer-nos enxergar, sem que o orgulho embace o olhar, quem verdadeiramente somos e quem Ele verdadeiramente é.

No colégio de Deus, a principal lição que os alunos do Mestre precisam aprender é que é preciso fracassar. Só os que passam por uma experiência de profundo fracasso pessoal podem ser bem sucedidos. Só os que conseguem enxergar o próprio fracasso conseguem entrar pela porta estreita que leva à humildade. E só os que caminham em direção à humildade dão o primeiro passo para dar-se conta do próprio orgulho.

Eis a principal lição do Mestre: os que se julgam aprovados já foram reprovados, e os que se julgam reprovados, esses sim são aceitos! Quem se considera capaz está inapto; quem se reconhece inapto é por Deus capacitado. Quem se acha bom aluno e, por esforço próprio, julga merecer passar, esse não passa; apenas os desesperados consigo mesmos são agraciados com o consolo e a esperança vindos do alto.

No colégio de Deus, é até admitida a entrada de pessoas perfeitas, mas é terminantemente proibida sua aprovação. Quem se aprova se reprova perante os olhos do Mestre. Quem acha que merece tirar dez tira zero, e quem acha que merece tirar zero tira dez. Quem quer ser o primeiro é o último, e quem se coloca no final da fila é o primeiro. Quem se declara inocente é culpado, e quem se declara culpado é absolvido. Quem quer ganhar a sua própria vida, já perdeu, e quem perde a própria vida por amor ao Mestre, esse ganhou tudo que importa.

O Supremo Professor não se cansa de continuar ensinando, até que seus amados alunos aprendam e descubram que não se trata de tirar a nota máxima ou mínima. Na verdade, nunca se tratou. Deus nunca esteve preocupado com a sua performance. O que importa, no colégio de Deus, é aprender a andar junto com o Professor, seguir as pegadas do Mestre e estar tão abraçado a Ele e junto dele a ponto de conseguir ouvir as batidas do seu coração. Nesse momento, podemos sentir o seu amor como nunca antes. Paramos de enxergar a Deus como um juiz tirano. Mudamos nossa percepção, baixamos a guarda: de vítimas, passamos a pecadores carecedores da graça de Deus. Pois aprovados são aqueles que compreendem, como Lutero, que não são amados por serem belos, mas se tornam belos simplesmente por serem amados. Aprovados são aqueles que estão sempre aprendendo a deixar a graça de Deus fazer por eles o que jamais seriam capazes de fazer por si mesmos.

Por Fernando Khoury

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:: Sobre os jardins dentro de mim ::

Pessoas sempre deixam marcas. Algumas deixam marcas positivas. Outras, negativas. Alguns, especialmente os que amamos, imprimem em nós marcas dos dois tipos.

Ambas são inesquecíveis: aquelas pelo amor, estas pela dor. 
Porque tudo que envolve amor e dor é digno de ser lembrado.

Aquela, digna de ser lembrada para ser eternizada e valorizada no jardim da saudade. Esta, digna de ser lembrada para ser esquecida e perdoada no jardim da misericórdia.

Cultivemos nossos jardins.

Por Fernando Khoury

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:: Teologia da Dificuldade ::

Deus é fiel quando tudo dá certo.
Deus permanece fiel quando tudo dá errado.
A nossa fidelidade é que costuma oscilar quando as circunstâncias nos confrontam e ousam acusar Deus de omissão.

Deus é bom quando nos livra da doença.
Deus continua sendo bom quando a doença não se vai e toma de nós aqueles que amamos.
A nossa bondade e gratidão é que costumam ceder lugar à maldade e ao murmúrio que jazem dentro de nós quando não vemos se cumprir desejos e sonhos legítimos que cultivamos.

Deus está na maior de todas as curas.
Deus está na maior de todas as perdas.
Mistério.
Deus não precisa de circunstâncias favoráveis para provar que nos ama.
Antes, optou por sofrer em si mesmo uma circunstância imerecida mais que desfavorável –morte de cruz – só para se aproximar de nós e nos mostrar a profundidade do seu amor.

Porque, para que não fique sozinha, é preciso que a semente caia na terra e morra.
Porque, para que houvesse em nós vida, foi preciso que o Verbo se fizesse carne e se doasse.
E se humilhasse
Da sua glória renunciasse
Dos seus direitos abdicasse
Só para morrer injustamente em meu lugar.

Porque o amor só é medido em toda sua resiliência quando permanece intacto diante da dor.
E, mesmo depois de todo o abandono, consegue superar o teste do tempo
Voltar ainda mais forte
Cicatrizando o aguilhão do desespero
Vencendo a vitória da morte

Esperança que antes não se desespera não é esperança; é sossego simplista.
Sorriso que antes não se debulha em lágrimas não é alegria; é mero movimento plástico da face.
Consolo sem antes haver tribulação não reconforta; exaspera.
Descanso sem prévia exaustão não alivia; sobrecarrega.
Graça sem consciência de desgraça não tem valor; é graça sem graça, barata
Anunciada em promoção na prateleira do Mercado da Fé.

Eis o Rei dos Judeus. Eis o Rei dos Gentios.
Eis a verdadeira teologia do carpinteiro de Nazaré:
Sua coroa de honra com espinhos é adornada
Sua soberania real, no serviço, celebrada
Seu poder absoluto se impõe pelo amor
O consolo que enxugou minhas lágrimas floresceu da sua dor
A vida que flui em mim nasceu de sua morte
O medo que me afligia temeu
O Criador do universo mudou a minha sorte

Eis a Teologia da Dificuldade:
A porta é estreita, apertado o caminho
Ninguém falou que seria fácil
Mas você não está sozinho

Vem, vem depressa
Quem quiser, pode entrar
A porta ainda está aberta
Mas tem hora pra fechar

Por Fernando Khoury

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:: De volta à vida ::

Da terra que julguei infértil, nova vida Deus fez nascer
Do coração maltratado, machucado, débil
Cristo em mim se fez florescer

Das tristes despedidas, esperança Deus fez brotar
As lágrimas frias, sofridas, no solo vertidas
Cristo usou para outros sonhos regar

Do sofrer Deus não me livrou
No sofrer, isto sim, em amor me poupou
E ensinou
Que qualquer vale ou montanha só a fé pode mover
Que ainda que eu sangre, me desgaste, morra
Em Cristo tudo que morre volta a viver

Por Fernando Khoury

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:: Atrair, trair, distrair ::

Dizem que os opostos se atraem. Discordo. Qualquer relacionamento que tencione ser duradouro precisa de muitos atributos, menos de oposição. Existem muitos erros e mitos em relação ao amor; principalmente os hollywoodianos. Esse é um deles. Sim, estou mais para o verso daquela música do grupo Teatro Mágico, que diz: "os opostos se distraem, os dispostos se atraem".

“Mas a lei do magnetismo entre opostos existe na natureza das coisas inanimadas!” – bravejam os opostos que se distraem. De fato, essa lei existe... para as coisas inanimadas! Ser humano não é coisa, muito menos inanimada. Coisas existem, seres vivem. Não caia na falácia naturalista que tenta a todo custo nos atomizar. Não somos só matéria. Não somos apenas pó. Temos uma alma. Não estamos mortos, desfalecidos. Somos seres que pensam, sonham, sentem, vivem. Somos seres criados à imagem e semelhança de Deus.

Também não somos bichos. Não caia na falácia pós-moderna que tenta a todo custo nos animalizar. Há uma tendência de se querer converter o ser humano em gado e de se transformar o amor entre homem e mulher em uma reprodução meramente animal, como se destituído estivesse de valores morais, sentimentais e humanamente divinos.

O mito cinematográfico da lei do magnetismo amoroso é perniciosamente alimentado por outro: a crença de que não existe amor possível onde há identidade de temperamento, unidade de propósito e semelhança no modo de sentir e pensar. Passa-se a falsa ideia de que, num ambiente como esse, o amor se esfriaria, pois tudo fica muito monótono, parado, sem novidade. Pelo contrário, é nesse tipo de relacionamento em que o verdadeiro amor se desenvolve. Os opostos que se distraem morrem de medo de o amor virar só amizade. Por isso, se acostumam a alimentar o amor de brigas e irritações mútuas, como se o desentendimento fosse um combustível essencial para manter a chama do amor sempre acesa.

O problema é que essa chama nutrida pela oposição inflama tanto que perde o controle e transforma o relacionamento a dois num inferno. Aos poucos, sem qualquer possibilidade de comunicação ou compreensão saudável, os opostos vão se matando com palavras e se distanciando cada vez mais. Os opostos se destroem, se perdem, se ferem, se distraem, se traem. Se subtraem, se abstraem, se detraem. Opostos não se entendem, nem se combinam e, perdidos e inseguros, costumam dar início à vã utopia de tentar mudar e moldar o outro pela força – buscando artificialmente encontrar uma unidade da qual, até então, ironicamente fugiam.

Claro, é preciso dizer, oposição não é sinônimo de diferença. Todo relacionamento possui e carece de diversidade, de elementos pontuais assimétricos que convivam e interajam harmonicamente entre si dentro de uma simetria maior. E é bom que seja assim. Contudo, oposição nunca traz unidade ao relacionamento. Opor-se é duelar. Amar é ajustar-se. "O amor consiste em não fazer da diferença, divergência", diria Frei Beto.

Diferenças, num terreno onde exista humildade, sempre nos fazem aprender, crescer e amadurecer. Diversidades, num solo onde haja unidade, permitem seja regada a benção da complementaridade: ser o que o outro não é, onde o outro não é, fazendo o que ele jamais seria capaz, sozinho, de fazer. Dois se tornando um e sonhando um mesmo sonho; um respeitando a individualidade dos dois e sonhando o sonho do outro. Mais fortes, misturados, capazes e preparados do que eram individualmente, antes de serem unidos na simbiose do amor. Aprendamos a garimpar a diversidade na unidade. Aprendamos a não fazer da diferença, divergência – pois quem faz divergência faz oposição, e quem faz oposição não está disposto a se atrair.

Por Fernando Khoury

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