:: A parábola do pastor perdido :: (releitura livre de Lucas 15.1-6)

“Todos os marginalizados da sociedade estavam se reunindo para ouvir Jesus.

Mas os líderes religiosos, que se achavam santos, únicos portadores da Palavra e inerrantes no cumprimento religioso de seus rituais espirituais, o criticavam, dizendo: 'Este homem recebe pecadores e até come com eles!'.

Então Jesus lhes contou essa parábola:

'Qual de vocês que, possuindo cem ovelhas, e perdendo-se no caminho, assume o seu erro e se permite ser corrigido por uma de suas ovelhas, e vai atrás de si mesmo, até se encontrar novamente, ainda que as outras noventa e nove o apoiem?

E quando se encontra, coloca-a alegremente nos ombros, dá-lhe um abraço e volta para casa. Ao chegar, reúne seus amigos e vizinhos e diz: 'Alegrem-se comigo, pois uma das minhas ovelhas estava lúcida e me ajudou a me reencontrar em minha perdição’.

Eu digo que, da mesma forma, haverá mais alegria no céu por uma ovelha lúcida que leva o seu pastor a se arrepender do que por noventa e nove ovelhas cegas que se omitem e acompanham o seu pastor em sua perdição."


Na apócrifa e hipotética parábola acima, a ovelha teve coragem de se posicionar, não saiu frustrada e decepcionada com a igreja e tampouco lhe passou pela cabeça virar uma 'desigrejada'. O pastor, por outro lado, não ficou preso em seu orgulho ferido e sequer amaldiçoou a ovelha 'rebelde', mas, pelo contrário, soube ouvir a crítica e reconhecer seu erro...

Infelizmente, ovelhas e pastores desse tipo não costumam ser facilmente encontrados no mundo real.

Por Fernando Khoury
:: A excelência dos medíocres e a mediocridade dos excelentes ::

"Há gente que, em vez de destruir, constrói; em lugar de invejar, presenteia; em vez de envenenar, embeleza; em lugar de dilacerar, reúne e agrega." Lya Luft

Algumas pessoas têm o dom de destruir aquilo que, no íntimo, querem valorizar. Outras se esforçam para supervalorizar aquilo que, no íntimo, sabem que deve ser destruído. Não é raro essas duas características coexistirem harmonicamente na mesma pessoa. Até mesmo porque destruir o que deve ser valorizado é uma inteligente e maquiavélica forma de supervalorizar o que deveria ser destruído. Contudo, hoje vou me propor a falar apenas do primeiro tipo.

Pessoas assim são como aquela mãe que come silenciosamente o delicioso bolo surpresa que a filha preparou, mas só faz criticar a bagunça que foi deixada na cozinha. E, por causa da bagunça, destrói a bela iniciativa da filha – que, no fundo, obteve admiração velada da mãe, mas só recebeu de concreto a sua raiva. Bagunça esta, vale a pena dizer, que, na maioria das vezes, só existe mesmo na cabeça da própria mãe. Afinal, não é nada fácil se deparar com uma pessoa que até anteontem estava debaixo das suas asas, totalmente dependente do seu auxílio e orientação, e, agora, começa a alçar voos próprios. Esses voos solos têm o poder de  bagunçar as gaiolas por dentro: faz as “pessoas-gaiolas” se sentirem ameaçadas, acuadas, destituídas de função e utilidade. Faz essas pessoas sentirem que perderam o controle sobre a outra.

Esse dom de destruir o que deve ser valorizado é a marca de uma mente ameaçada, de um coração inseguro de perder o controle sobre algo que de fato já está voando livremente, sem gaiolas, de forma leve e solta pelos ares.

Esses, os que realizam voos solos, são criadores por natureza. Carregam a marca da excelência. E, para criar, muitas vezes precisam, antes, destruir: desfazer barreiras, desconstruir preconceitos, demolir muros de separação, pôr abaixo a inércia, dar a cara à tapa. Traçar rumos antes jamais traçados e pisar em terras antes jamais pisadas. Arregaçar as mãos. Fazer o novo ou, no mínimo, queimar alguns neurônios para colocar a criatividade a serviço da renovação das antigas e boas ideias que, de tempos em tempos, precisam ser renovadas para serem compreendidas. São poucas as pessoas que se dispõem a esse árduo e desafiador trabalho, por sempre envolver uma elevada dose de sacrifício e renúncia pessoais.

Agora, para construir em cima de edificação alheia, sempre aparece alguém sorrindo de orelha a orelha com os dentes brilhando, disposto a destruir tudo que já foi construído, selado e sedimentado após o árduo trabalho dos criadores. Esses, as “pessoas-gaiolas” que se sentem ameaçadas, são os medíocres por natureza – como aquela mãe, bagunçada internamente pelo delicioso bolo preparado pela filha. Não é à toa que, em regra, a inveja é o alto preço que a excelência cobra da mediocridade.

O médico e professor de psiquiatria Luís de Rivera define mediocridade como a incapacidade para apreciar e valorizar a excelência. Segundo ele, na sociedade em que vivemos, existe uma tensão latente entre excelência e mediocridade: enquanto aquela contribui de forma definitiva para o progresso e para mudança, esta é necessária para se manter inquebrável o status quo e a estabilidade social.

Das três espécies de mediocridade que o professor elenca, duas são simplesmente incapazes de reconhecer o progresso, e uma – a pior e mais maligna delas – busca destruir o progresso criativo, não importando os meios utilizados para se chegar a esse fim. É a denominada mediocridade inoperante ativa, presente naquelas pessoas que não são criativas nem produtivas, mas destrutivas, simplesmente por possuírem um enorme desejo de serem notadas e mantidas em seu status quo.

Afora todos esses dilemas inerentes à sociedade doente na qual vivemos, gosto particularmente da forma como Deus lida com “excelentes criadores” e com “medíocres destruidores”. Deus ama tanto os que querem criar quanto os que querem destruir. Parafraseando Lutero, Jesus não amou criadores e destruidores porque são dignos de serem amados; mas, porque decidiu amá-los, criou neles o que vale a pena ser amado. E mais do que amar: Deus usa os dois para sua obra aqui na Terra – apesar dos dois. Até porque os “excelentes criadores”, após terem sua criação perfeita e acabada, podem perfeitamente, depois de um tempo, se transformar em “medíocres destruidores” apenas para manter inquebráveis o status quo conquistado e a estabilidade pessoal adquirida. Jesus não. Jesus foi diferente.


O Excelente Criador nunca destrói aquilo que quer valorizar. Pelo contrário, Cristo só destrói aquilo que quer nos destruir e nos separar do seu amor. Jesus anulou a consequência do orgulho que nos fez cair. Quer sejamos criadores, destruidores, ou os dois, através da excelência da cruz Jesus destruiu o poder da morte e nos trouxe de volta pra si. Não existem mais terrenos próprios ou alheios: tudo é de Cristo, por Cristo e pra Cristo (Rm 11.36). Quem constrói o faz em terreno de Cristo. Quem destrói o faz em terreno de Cristo. Chega de vaidade! Chega de excelência na mediocridade! Chega de mediocridade na excelência! Valorize o que deve ser valorizado, para honra e glória do único Criador de todas as coisas. 


Por Fernando Khoury
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